O pecado mora ao lado, o perdão também.

O pecado existe sim; espreitando, enleando, seduzindo.

O perdão existe sim; aliviando, desadoecendo, enlevecendo.

Pecado e perdão não são abstrações teológicas.

O pecado existe. Enquanto ato, cometemos, repetimos, reincidimos, chutamos o balde até sussurrar um semi-surdo pedido murmurante. Pecado adoece e quando é fato cometido aloja-se e cria raízes, cria caule, folhas, frutifica para o mal. Pecado pesa, prostra, tolda; faz a gente olhar pro chão. Pânico de dedos em riste. Pecado parece doença ruim (na minha terra classificamos as doenças moralmente, DST é doença ruim), parece que é pra sempre, que tem que aprender a conviver com, que é melhor pecar mais só pra ver se alivia um pouco... Mas não alivia, só parece.

Tentação depois que vira pecado perde o cheiro bom e o jeito bonito. Dói e fede.

O perdão existe. Perdão faz bem. Desfaz o mal, anula o mal, desencadeia o bem.

Só que entre perdão e pecado não tem convivência, não há acordo. Um tem que sair; perdão é resultado de arrependimento, desses de verdade. Tem sentimento confuso que se parece com perdão, mas não é, é remorso, que não traz nem faz bem. Traz morte, assunte na Bíblia... Iscariotes. Agonia.

Arrependimento existe, é quando Deus acha uma brecha em nós, inexpugnáveis malfeitores de nós mesmos, e enfia sua luz; aí, pasmos nos vemos como somos, como estamos. Somos e estamos entulhados.

Perdão de Deus é imediato, perdão de nós requer tempo; quem se atreve a se contemplar em pecado quando já não há a adrenalina do pecado? Quando o ofegante brilho do diabo já se foi? O brilho e a adrenalina que precedem o pecado se esvaecem pra deixar só uma desesperança covarde; o inebriante cheiro e o incomparável sabor sempre dão lugar ao desumano espetáculo de almas falidas. Íntimo horror.

Quando o que era formigante possibilidade se torna fato já não é mais formoso ou doce. Desagradável aos olhos, asqueroso ao toque; inconveniente hóspede.

Se não me arrependo, me perco, sinto só remorso e me arrisco à corda de Iscariotes por instantes. Morro um pouco em mim pra Deus; ou morre um pouco de Deus em mim? Dou-me por perdido.

Mas sou crente, a palavra não me é estranha posso olhar pra cruz. Posso abrir a alma e a boca e pedir socorro, e o socorro vem, o alívio vem, o perdão vem.

O pecado existe, o perdão existe. Conhecendo os dois, eu escolho não pecar.

Abençoada escolha!

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_________________ Magno Aquino Miramontes

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(ex-interno do centro de recuperação de mendigos – Missão Vida)