A CIDADE DOS MEUS AMORES... QUE TODOS FOSSEM CRIANÇAS.

As curvas de um rio deram o nome à minha cidade: Volta Redonda. Rio que corre suave, contanto através do seu leito, histórias de muitas gentes.

Nasci numa cidade urbana. Ruas projetadas para fazer fluir calma e naturalmente tanto as pessoas quanto o trânsito; uma cidade em que as casas, semelhantes em sua arquitetura e cores, só se diferenciavam pelo número dos filhos que em cada uma residia.

Pois é, minha cidade foi projetada para o futuro. A Usina Presidente Vargas, (CSN) construída às pressas durante a Segunda Grande Guerra para suprir os “aliados” com balas de canhões (o que “graças a Deus” nunca aconteceu, pois a guerra terminou antes) faz parte de uma história contata com sangue, suor e lágrimas.

Aliás, quando me refiro aos “aliados” fico a pensar: “aliados” de quem eram essas pessoas que na onda do desenvolvimentismo, subtraíam de casas mineiras, nortistas e capixabas seus filhos queridos e famílias inteiras para morar e trabalhar numa distante terra, que na verdade era, ao mesmo tempo, terra de todo mundo e terra de ninguém?

Cresci ouvindo sobre a saudade de meus pais e dos pais de meus amigos de suas terras natais. Certamente poderíamos parafrasear o Salmista, declarando:

“juntos ao Rio Paraíba do Sul nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos das Minas Gerais, da Serra do Caparaó, do Sertão nordestino, dos lençóis maranhenses, das exuberantes praias cearenses, enquanto nossos chefes e encarregados nos diziam: cantem para nós um xaxado, uma cantiga de roda, um maxixe, uma dança de côco, ou um frevo nordestino”

Mas, eis que alguém olha e vê nesta terra a oportunidade da fortuna. Interessante isso. Enquanto os “arigós”, como eram chamados os operários pobres, construíam uma cidade e uma usina, outros se enriqueciam, nem sempre por meios justos e honestos.

Enquanto meus pais e os pais de meus amigos e irmãos da Igreja se dividiam entre casa, trabalho e igreja, a vida política, social e econômica da minha cidade era forjada. Por trás do aparente progresso, do “avanço... pra frente Brasil” – as casas foram dividas, compartilhadas, alugadas, segundo o padrão de cada um, numa clara evidência de quem mandava e de quem era mandado.

O legado que recebi de meus pais foi de profundo amor e gratidão pela terra onde eu nasci. De meus pais eu ouvia as palavras: “melhor dormir em paz do que ser rico desse jeito”.

Todavia, assim como a cidade e a usina, construídas para forjar o aço e o progresso não tinham tempo para Deus, a vida também passou a forjar corações insensíveis à voz de Deus e a voz do povo.

Foi no contexto social urbano que minha fé foi formada. Assim fui ensinado que Deus e mundo não se misturam. Também me foi ensinado a diferenciar muito bem os de “dentro” ( o Fanun) e os de “fora” da Igreja (o Profanun).

Mas se eu posso poetizar, tomo emprestadas as palavras de outro poeta; "faz escuro, mas eu canto que a manhã vai chegar”.

Sim, também canto para Deus para que a minha cidade seja um lugar em que haja sinais do seu Reino. Para que profetas e poetas anunciem “eis aí o teu Deus”.

A cidade dos meus sonhos está muito distante da realidade. Hoje com milhares de habitantes, ela também geme e chora por seus filhos. Volta Redonda hoje, é uma cidade moderna, dinâmica, rica. Todavia, como muitas em muitos lugares, é também uma cidade que precisa ser resgatada.

Resgatar a dignidade e a esperança na vida de prostitutas, assaltantes, mendigos, donas de casa e de lojas, donos de riquezas, e todos os moradores. Enfim, regatar a cidade e os cidadãos, como o arauto Chico Buarque de Holanda poetiza e profetiza:

“A cidade dos meus amores, e, quem dera, os moradores, e o prefeito e os varredores fossem somente crianças. Deve ter a mil instantes a cidade dos meus amores, e, quem dera, os moradores, e o prefeito e os varredores, e os pintores e os vendedores, as senhoras e os senhores, e os guardas e os inspetores, fossem somente crianças”.

Criança – Paradigma de uma nova cidade. Bela cidade. Cidade de Deus. Uma expectativa escatológica para hoje: “novo céu, nova terra”, nova cidade – tudo novo.

Soli Deo Gloria.

Vivendo para Servir.

Adriano Tenório.

Adriano Tenório
Enviado por Adriano Tenório em 22/08/2009
Código do texto: T1767460