Requiem
Naquela manhã de inverno, o céu foi tornando-se escuro e denso, e logo depois, chegou a chuva acompanhada de um furioso vento. Em pouco tempo formou-se grande enxurrada, que levava tudo o que se encontrava pela frente.
Estava sozinho na sala, tomando um "capuccino" bem quente. Usei a xícara para aquecer minhas mãos frias e manchadas pelo tempo. De, fato o tempo deixa marcas, somente para quem viveu e amou intensamente.
E parece que o tempo parou, e para preencher aquele vazio, comecei ver algumas fotos no álbum de família. E deparei com a foto de alguém tão especial que partiu tão de repente, e deixou um grande vazio em nossa breve existência.
Numa manhã qualquer, ele pousou apenas para quatro fotos, ele nunca gostou de fotos, afinal a vida não se resume em uma fotografia. Mas, essas fotos, conseguiram captar um pouco de sua essência e a beleza de sua ingênua alma. Não são fotografias comuns, são fotos atemporais e eternas.
A primeira foto, ele segurava uma velha carriola, onde havia um belo canteiro de cebolinha de cheiro. Ele tinha as mãos abençoadas, tudo que plantava nascia rapidamente, ele certamente sabia a linguagem dos vegetais. E ele se relacionava bem com os seus animais. Certamente, os felinos da rua sentiram a sua falta, pois toda manhã servia água limpa e ração para aquelas frágeis criaturas que foram abandonadas na rua.
A segunda foto, ele ri com muita espontaneidade, a câmara conseguiu focalizar, o branco dos cabelos e as rugas de alguém, que viveu e lutou com dignidade. Certamente, esse sorriso será eternizado.
A terceira foto, ele segura os galhos do limoeiro, aquele limoeiro que ele viu crescer e que lhe dava sombra e limões em abundância. Agora, ali debaixo daquela copiosa sombra, há apenas uma velha cadeira vazia, que certamente guarda consigo segredos, dessa longa amizade.
A quarta foto, está em preto e branco, e nela há tanta coisa pra ser vista, basta querer. Ali está um ser humano lindo. Que passou em nossas vidas e deixou marcas profundas em todos nós. Ele era único, era especial, era dádiva de Deus.
Ele partiu tão de repente, foi como uma estrela cadente, mas seu brilho continuará eternamente entre nós. Ele voltou pra casa do Pai, e agora cessou toda dor e sofrimento. Há coisas que não compreendemos, outras que questionamos e não teremos a resposta. Todavia, de uma coisa tenho certeza, tudo o que Deus faz é perfeito.
Ele viveu, lutou, sonhou e como faz parte do ciclo da vida, partiu. A vida é como uma frágil vela, que poderá sem apagada a qualquer momento. Porém, a ternura ensinou-me a amar as pessoas como se não houvesse amanhã.
Requiem.
Carpe diem.
Carlos Magnani
Nasceu em 19-01-1952
Faleceu em 12-06-2024