AMIGO
Das coisas que eu queria te falar e não pude, tive vergonha, uma delas eu é que eu te amava como um irmão. Das vezes que você me ouvia falar, calado, e depois me olhava ternamente, com uma ternura que só teu olhar tinha, e agora você se foi.
Quanto minuto a mais me pediu e eu não os tinha, quantas horas me destes e tu não as tinha, agora eu tenho todo o tempo do mundo e tu não o podes usufruir.
Com alguma tristeza eu escrevo isso, não sei por que me sinto frio, sem sentimentos, um oco, a vida nos ilude com a idéia do amanhã, daqui a pouco, um estou indo (quando já devia estar lá).
É meu AMIGO, assim é a vida, uma ilusão; espero que me perdoes as tantas vezes que te magoei, me perdoes os conselhos em vão que me destes, tuas frases ecoam em minha mente dizendo, ou melhor, gritando:
Tu vais te acabar e não aproveitará o tempo que já é curto, vamos aproveitar a vida ELA É curta, tu não vais ter tempo nem de morrer!
MORRER, pois é hoje eu tive tempo de te ver ali, calado em tua gaiola e pela primeira vez meu AMIGO sabiá, eu cheguei perto de ti e tu não me cantaste um conselho vão.
E eu que pensava que te entendia, se eu soubesse que aquele teu lindo canto era o último da tua vida, eu pela primeira vez sentaria para te ouvir.