O maná de Moshé - Jo6

Vivemos um momento conturbado. Duas guerras cruentas – uma bem ao Norte de Israel, e outra se ampliando para seu Leste – parecem aproximar ‘o princípio das dores’ para este já tão sofrido povo.

E é comum nestes momentos, pela nossa afinidade bíblica com o povo terreno de Deus, tomarmos posição ‘irrestrita’ ao lado deles. Temos ouvido muitas vozes, dentro da cristandade secularizada, defendendo, apoiando e quase que ‘santificando’ este rebelde povo. Mas calma!…

Não negamos o fascínio que o povo terreno escolhido exerce sobre quem ama a Escritura. Amamos seus grandes profetas, homens e mulheres simples que tentaram alterar (sem êxito!) o triste curso do pecado que seu povo sempre trilhou.

Negamos o retorno a um passado que não existe mais, reescrito por Deus pela graça em Jesus. Negamos o retorno a Leis cerimoniais, sacerdotais e civis que não podem acrescentar nada à nossa vida espiritual, que não podem conduzir à Jerusalém celestial, que não podem facilitar nossa entrada ao Santuário aberto pelo sangue do Calvário. Ou seja…

“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo” (Hebreus 1.1).

Exaltamos, adoramos e seguimos este Filho – vencedor do mundo, das trevas, do pecado, da Lei e de Satanás – e que nos elevou, ao abrir a porta do Evangelho aos gentios, a um patamar espiritual jamais alcançado pelos judeus escravizados pela Lei.

Duas posições gravemente divergentes são declaradas por Deus a respeito deste povo, que nos podem trazer uma melhor consciência da realidade destas coisas.

“A quem te compararei, ó filha de Jerusalém? A quem te assemelharei, para te consolar, ó virgem filha de Sião?” (Lamentações 2.13).

“Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela que estava cheia de retidão! A justiça habitava nela, mas agora homicidas” (Isaías 1.21).

Se o relacionamento de Deus com a virgem O obriga a ainda restaurar sua nação, e que certamente o fará na hora devida, a conduta da prostituta O obriga aos mais terríveis castigos que já se anunciam!

Somente o Evangelho de João, este que ora analisamos, aponta uma reprimenda do Messias rejeitado ao povo que sempre se prende às sombras do passado. Após a primeira multiplicação dos pães, uma multidão ‘faminta’ o busca para “vir arrebatá-lo, para o fazerem rei” (Jo 6.15). E assim Ele os incita a um (re)posicionamento mental e espiritual:

“Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou” (6.26-27).

Então a pergunta sempre sobrecarregada pelas obras da Lei reaparece, e ainda com nova hipocrisia:

“Que faremos para executarmos as obras de Deus?... Que sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos, e creiamos em ti? Que operas tu? Nossos pais comeram o maná no deserto [e assim desdenhando os pães recém digeridos], como está escrito: Deu-lhes a comer o pão do céu” (6.28-31).

A resposta do seu Messias põe toda a arrogância e ignorância geral na devida ótica:

“Na verdade, na verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu; mas meu Pai vos dá [agora] o verdadeiro pão do céu. Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo [não só para judeus, mas para todo aquele que simplesmente crê]” (6.32-33).

E é aqui que fazemos nossa veemente ressalva, ainda que o amando e respeitando…

Moisés, e tudo que se atrela a ele, não pode verdadeiramente alimentar.

Moisés, e tudo que se liga a ele, não pode verdadeiramente salvar.

Moisés, e tudo que se amarra a ele, não pode verdadeiramente libertar.

Moisés, e tudo que se sujeita a ele, não pode verdadeiramente justificar.

Moisés, e tudo que se vincula a ele, não pode verdadeiramente santificar.

Moisés, e tudo que se subordina a ele, não pode verdadeiramente glorificar.

Moisés, e tudo que se apoia nele, não pode verdadeiramente descansar.

Mas o Filho em carne pode tudo isto e muito mais, pois é o Herdeiro da sua casa.

“E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar [tudo foi projetado para cumprir a sombra no futuro]; mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós [judeus e gentios unidos no único corpo da Igreja pela fé exclusiva em Jesus], se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim.” (Hebreus 3.5-6).

Julguemos então “segundo a reta justiça” de Deus – Israel sofre até hoje pois escolheu o caminho do mau, ‘recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro’. Devemos orar por este povo para que seus olhos sejam abertos como incita o verdadeiro judeu Paulo, depois que seu próprios olhos foram desimpedidos:

“Irmãos, o bom desejo do meu coração e a oração a Deus por Israel é para sua salvação. Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento” (Romanos 10.1-2).

Busquemos o bem deste povo sempre – porém lembrando que não são inocentes:

1) Nem para com Deus – “porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor” (Jr 31.32);

2) Nem para com seu Messias – “que são inimigos da cruz de Cristo” (Fp 3.18);

3) Nem para com os gentios que os cercam – “porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós” (Rm 2.24); e

4) Nem para com a Igreja corpo de Cristo – pois o mesmo Paulo, anteriormente à sua conversão ao Messias ressuscitado, “sobremaneira perseguia a igreja de Deus e a assolava” (Gl 1.13). E não pense que algo mudou neste sentido...

Novamente, busquemos o bem deste povo sempre – mas tendo em mente todas as referências sincronizadas pela Palavra de Deus.