JOÃO em foco! - Jo1
João é o Evangelho de Deus, contemplando a face da águia em pleno voo, e assim completa a figura dos 4 seres viventes e suas 4 faces, tanto na visão gloriosa de Ezequiel quanto na enigmática, mas não menos esplendorosa, de João em seu Apocalipse.
Não se poderia esperar que o livro que retrata a divindade de Jesus fosse semelhante, quanto à sua estrutura e assuntos envolvidos, aos 3 evangelhos precedentes, uma vez que o Rei, o Servo e o Homem (figurados respectivamente por Mateus, Marcos e Lucas) se prendem ao terreno, e aquele ao celestial.
E se é um livro que se ergue ao celestial, podemos agora entender por que sua abertura utiliza o mesmo termo emblemático e indefinido de Gênesis – “No princípio”. E podemos provocar – tratariam do mesmo princípio, em termos do tempo contado?! Obviamente, não!, uma vez que o mesmo Verbo sempre esteve com Deus, e – sendo Deus – foi responsável pela criação física – “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele [o Filho] nada do que foi feito se fez” (1.3).
Dez atribuições íntimas, anexadas ao nome divino maior do Antigo Testamento, são proclamadas por Jesus sem nenhum constrangimento pessoal – Eu sou 1) o pão; 2) a luz; 3) de cima; 4) a porta; 5) o bom pastor; 6) a ressurreição; 7) o caminho; 8) a verdade; 9) a vida; 10) a videira. Sem contar 4 provocações cuidadosamente medidas, dispensando complemento – “se não crerdes que eu sou”; “então conhecereis que EU SOU”; “antes que Abraão existisse, eu sou” e “ para quando acontecer, acrediteis que eu sou” (8.24; 8.28; 8.58; 13.19).
Duas expressões únicas a este Evangelho, diametralmente opostas, mas complementares diante da necessidade de um e doação de outro, modelam o caráter deste livro magnífico – “Eis o cordeiro de Deus” saído dos lábios de João Batista, e “Eis o homem” da boca de Pilatos.
Se o homem, morto em seus delitos e pecados, chega ao mundo ávido por viver e gastar o que pensa que tem, o cordeiro, pleno de vida divina, chega com o intuito maior e sublime de morrer e doar tudo o que sabe que possui.
E neste tema, podemos lembrar que o versículo mais conhecido, divulgado e gracioso foi configurado neste livro – um mini evangelho, quase todo suficiente, disposto em 28 palavras de profundidade e alcance ímpares:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Mas como numa contramão de pensamento, não encontramos neste livro sequer uma menção da palavra ‘fé’ ou ‘esperança’ (e esta última em nenhum evangelho). Não obstante, o verbo ‘crer’, como responsabilidade humana em resposta ao chamado divino, aparece 25 vezes em João, contra 11 dos outros 3 livros somados.
O grande trunfo de João são os longos discursos de Jesus, abrangendo vários temas que eram incomuns ao mundo judaico, mas são totalmente familiares ao mundo cristão, o que demonstra seu caráter limítrofe de eras – seu livro é uma demarcação entre o que vigorava (o peso da Lei) e o que passaria a vigorar (a liberdade da graça).
Seu mais longo discurso, em meio à famosa ceia dos apóstolos, e distribuído por 5 capítulos entrecortados por breves falas dos discípulos, é intensamente desconcertante para o mundo judaico de então.
A glória inigualável e nunca vista por um povo engessado pela Lei de Moisés, jamais poderia conhecer, entender ou mesmo aceitar um conceito tão avançado como proposto por Jesus aos apóstolos comissionados para pregar ao mundo todo a partir dali– “E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um” (17.22).
Esta nova ‘doutrina’ é típica do Novo Testamento, e Paulo será seu grande defensor e promotor.
João é livro único, pois o Cordeiro que anuncia, e em quem temos crido, é único – é o EU SOU!
E nada nem ninguém, em qualquer período humano, pode mudar esta sublime realidade!
Passemos então a uma análise mais substancial de “O Evangelho segundo João”.