Entre amigos - Lc6

Logo após o ensino da oração mais repetida na face da Terra, nosso Senhor Jesus a complementa com uma parábola que vai muito além da simples conclusão de que devemos ser constantes e insistentes em nossas orações. Ela nos remete ao final dos tempos, quando Israel será novamente objeto claro da atuação graciosa de Deus.

“Então lhes disse: Suponham que um de vocês tenha 1) um amigo e que 2) recorra a ele à meia-noite e diga: ‘Amigo, 3) empreste-me três pães, porque 4) um amigo meu chegou de viagem, e não tenho nada para lhe oferecer’. E o que estiver dentro responda: ‘Não me incomode. 5) A porta já está fechada, e eu e meus filhos já estamos deitados. Não posso me levantar e dar a você o que me pede’. Eu digo: Embora ele não se levante para lhe dar o pão por ser seu amigo, por causa da importunação se levantará e lhe dará tudo o que precisar” (Lucas 11.5-8).

Vamos a uma busca não extensiva dos termos envolvidos nesta intrigante passagem (não na ordem exata acima) para nos estimular ao sentido mais profundo da parábola.

2) Quanto ao tempo – o juízo da meia-noite, o período da tribulação para Israel:

“Disse mais Moisés: Assim o Senhor tem dito: À meia-noite eu sairei pelo meio do Egito; e todo o primogênito na terra do Egito morrerá” (Êx 11.4-5).

“Mas à meia-noite ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro” (Mt 25.6) – passagem das 10 virgens (5 néscias e 5 prudentes) no retorno do Messias, o esposo.

Atente que o outro amigo teve que chegar antes da meia-noite de sua viagem, para só então o solicitante dos pães chegar à meia-noite na casa do amigo, hora que representa o período mais crucial de Israel. Há um lapso de tempo entre a chegada do amigo de sua viagem e a solicitação dos pães pelo personagem central à meia noite. Isto é crucial para o bom entendimento do evento todo.

1 e 4) Quanto aos amigos envolvidos: a) descendência de Israel – o solicitante dos pães; b) Deus – o amigo das portas fechadas; c) o amigo chegado da viagem – o Messias.

a) “Porventura, ó nosso Deus, não lançaste fora os moradores desta terra de diante do teu povo Israel, e não a deste para sempre à descendência de Abraão, teu amigo?” (2 Crônicas 20.7) – toda a descendência dos judeus é, por ligação ao pai Abraão, constituída de amigos de Deus, ainda que O desprezem. Mesmo Judas, o traidor, foi chamado ‘amigo’ por Jesus.

b) “Portanto assim diz o Senhor: Eis que trarei mal sobre eles, de que não poderão escapar; e clamarão a mim, mas eu não os ouvirei... por causa do seu mal” (Jeremias 11.11-14).

c) “Ouvi, ainda, outra parábola: Houve um homem, pai de família, que plantou uma vinha (símbolo do sacerdócio judaico), e circundou-a de um valado, e construiu nela um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e ausentou-se para longe” (Mateus 21.33).

5) Quanto à condição da casa do amigo – porta da graça fechada (talvez pelo arrebatamento da Igreja?! seriam os filhos deitados a Igreja em descanso, ou os piedosos de Israel já mortos, ou ambos?!), e a enorme pobreza espiritual de Israel:

“Vai, pois, povo meu [Israel], entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira [tribulação]” (Isaías 26.20)

“Quem há também entre vós que feche as portas [do tabernáculo] por nada, e não acenda debalde o fogo do meu altar? Eu não tenho prazer em vós, diz o Senhor dos Exércitos, nem aceitarei oferta da vossa mão” (Malaquias 1.10).

“Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo...: que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado” (Romanos 11.25).

3) Quanto aos pães requeridos – Israel sempre desprezou tanto o pão físico (o maná) quanto o verdadeiro pão que desceu do céu:

“Três vezes no ano todo o homem entre ti aparecerá perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher, na festa dos pães ázimos, e na festa das semanas, e na festa dos tabernáculos; porém não aparecerá vazio perante o Senhor” (Deuteronômio 16.16) – as 3 festas envolvem o fruto (direto ou indireto) da terra: os pães sem fermento da Páscoa; a ceifa do campo nos primeiros frutos das Semanas ou Pentecostes; e a oferta da colheita final na última festa para a entrada no Reino.

“Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém, não se lhe dará outro sinal senão o sinal do profeta Jonas: Assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra” (Mateus 12.40) – eis o verdadeiro pão rejeitado, não somente já descido do céu, mas agora ressuscitado depois de queimado pelo juízo de Deus na morte, e assim pronto para reunir seu povo representado pelos frutos das 3 festas obrigatórias acima.

Não podemos negar as dificuldades desta parábola, ainda que seus ricos detalhes se encontrem espalhados pela Bíblia como base interpretativa. Mas penso que as comparações citadas norteiem aqueles que queiram aprofundar seu entendimento.

Faremos então agora o inverso – procuraremos as mesmas condições citadas acima, porém mirando a Igreja corpo de Cristo, o que nos levará a uma percepção, ou mesmo uma diferenciação, mais aguçada dos propósitos de Deus para Israel e para Sua Igreja.

Mas isto deixaremos para nosso próximo artigo. Até já!