O deserto de Daniel - Dn2
Quando determinado tema bíblico tem importância aumentada, é de se esperar que ele seja reafirmado de forma insistente, porém sob novas perspectivas e figuras.
O longo exílio de Daniel para Babilônia, passando pelos reinos sucessivos da Média e da Pérsia, é um exemplo claro do que pretendemos anunciar.
Outros homens com o mesmo gabarito espiritual deste fiel servo de Deus, também o experimentaram – Abraão separado de sua gente em terra estranha, Moisés na distância do deserto apascentando ovelhas, João Batista também no deserto sob uma dieta rigorosa de mel e gafanhotos, a própria nação de Israel que teve de peregrinar por 40 anos num mesmo ambiente desértico mas sob dieta celestial... e que se dirá de nosso amado Senhor que “se retirava para os desertos, e ali orava” (Lc 5.16)?
Minha esposa recebeu diretamente do Senhor, após longo período de oração, uma frase que, apesar de não bíblica, possui valor espiritual à altura – ‘As atitudes dos outros também contaminam a gente’.
Somente a separação e a distância podem nos fazer retornar ao ponto de partida que nos tem distanciado do caminho da comunhão divina por causa destas influências malignas. Como Daniel entendia estas coisas?
“E o rei lhes determinou [a Daniel e seus 3 companheiros] a porção diária, das iguarias do rei, e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos” (Dn 1.5).
Entenda que o objetivo do rei não era para o bem deles, mas para criar neles uma total dependência dos costumes e prazeres daquele novo governo que os admitia. O rei os queria mansos e viciados. Não é exatamente o que o mundo nos tem feito?! E qual foi a resposta destes 3 fiéis?
“E Daniel propôs no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia” (1.8).
Não era porque eles estivessem em outro ambiente – inóspito ou atraente – que eles afrouxariam a santidade que Deus lhes exigia pela lei.
Esta verdade espiritual profunda não somente não foi abandonada, como ainda foi exaltada pelo Rei dos reis.
“Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro” (Lc 16.13).
Eles tinham que escolher – agradariam ao novo rei do mundo em que viviam ou ao Deus que, embora os tivesse levado em castigo, não havia rebaixado sequer um til de Sua Lei. Se rejeitaram a Deus em sua própria terra – agora teriam que rever seus valores morais e espirituais no castigo da terra longínqua. Obviamente seria agora mais difícil.
Mas suas escolhas em prol do que acreditavam ser ordem divina – em terreno santo ou hostil – teve seu resultado.
“E, ao fim dos dez dias, apareceram os seus semblantes melhores, e eles estavam mais gordos de carne do que todos os jovens que comiam das iguarias do rei” (1.15).
Aquela verdade antiga, mas escondida sob hipocrisia farisaica ou evangélica, deve ser redescoberta ante as mentiras constantes de nossos governantes e pastores.
“Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros” (1 Sm 15.22).
O que ocorreu com nossos 4 amigos exemplares no passado, é o que Paulo ministraria mais à frente em linguagem doutrinária.
“Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” (Rm 6.16).
“Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Co 3.17-18).
Que o Senhor, em Sua riquíssima misericórdia, nos conduza no mesmo caminho corajoso de separação do mundo civil e religioso, e possamos refletir melhor a glória de um Deus cheio de graça e de verdade! Ainda mais que aquele dia terrível se aproxima velozmente...
Passemos então na sequência para 3 figuras incomuns mas vantajosas – a árvore que crescia na terra, os 7 tempos de loucura sobre Nabucodonosor e o banquete farto de Belsazar para 1000 dos seus senhores.