Elias e o Pai - 1Re7
Como já dissemos, diante de um rei extremamente corrupto, somente um profeta a altura que lançasse em rosto da nação suas injustiças e pecados. Elias foi levantado para tal.
Seu nome já é um testemunho claro ao povo que coxeava entre dois deuses – "o Senhor é o meu Deus" ou mais precisamente naquele tempo – "Jeová (Yahveh ou Yehovah) é meu Deus".
Sua atuação está mais propensa às características do Pai, ou seja, o Deus que precisa exercer a qualquer custo sua justiça (retidão absoluta) e juízo (julgamento e recompensa pela quebra da lei). Não que Ele não salve, jamais dizemos isto. Mas Ele não pode salvar sem a oferta de sangue que viria bem à frente pelo seu Filho. Outro profeta será levantado depois dele nas características salvadoras do Filho, e que comentaremos no próximo livro. Acompanhemos então seu ministério em 3 ocasiões especiais.
Surge repentinamente chamando a seca, que duraria por três anos (número que simboliza tanto a marca de Deus em testemunho da graça quanto do castigo), sobre a casa de Israel por causa de Acabe. Ele então é enviado ao ribeiro de Querite (“um corte, uma separação”) ficando ali até que o ribeiro secasse. Não há como não lembrar as palavras do Deus de Israel.
“Mas as vossas iniquidades [ou injustiças] fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça” (Is 59.2).
Secado o ribeiro, é levado à casa de uma viúva em Sarepta de Sidom, cidade fenícia, portanto gentílica. Ouçamos o testemunho de Jesus numa clara alusão de que, se a nação não se arrependesse naquela nova oportunidade, suas bênçãos seriam passadas aos gentios.
“Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses [agora Jesus demarca o tempo com precisão], de sorte que em toda a terra houve grande fome; e a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva” (Lc 4.25-26).
Esta viúva e seu filho que morrerá repentinamente antecipam a condenação de Paulo sobre os gentios e também da misericórdia estendida a eles. Comparemos.
“Então ela disse a Elias: Que tenho eu contigo, homem de Deus? vieste tu a mim para trazeres à memória a minha iniquidade, e matares a meu filho? E ele disse: Dá-me o teu filho... Então se estendeu sobre o menino três vezes [testemunho triplo da graça], e clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor meu Deus, rogo-te que a alma deste menino torne a entrar nele. E o Senhor ouviu a voz de Elias; e a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu” (1 Re 17.18-22).
“Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne... Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo” (Ef 2.11-12).
“Porque assim como vós [gentios] também antigamente fostes desobedientes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia pela desobediência deles [judeus], assim também estes [judeus] agora foram desobedientes [negando seu Messias], para também alcançarem misericórdia [no tempo futuro] pela misericórdia a vós [gentios] demonstrada [nesta era presente]” (Rm 11.30-31).
Passada esta provação, Jezabel promete a morte de Elias quando este havia destruído os 450 profetas de Baal. Então o Senhor o envia ao monte Horebe, o mesmo monte onde Moisés viu passar a benignidade de Deus, porém de forma velada, não lhe vendo a face.
“E o anjo do Senhor tornou segunda vez, e o tocou, e disse: Levanta-te e come, porque te será muito longo o caminho. Levantou-se, pois, e comeu e bebeu; e com a força daquela comida caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus” (1 Re 19.7-8).
Elias chorou ao Senhor sua amargura por se sentir sozinho ante tanta incredulidade, perseguição e frustração. O Senhor se revela três vezes de forma inacessível (vendaval, terremoto e fogo – o Pai em ira) e na quarta uma voz suave manifesta sua bondade (o Pai acessível no Filho). Não existe misericórdia sem antes haver juízo, nem salvação sem a morte de alguém em nosso lugar.
O que Deus queria dizer a Elias, e também deve dizer a nós, era que nada passava desapercebido por Ele. Ele julga todos os corações, todas as intenções, todo nosso trabalho. Ele conhece nossa dificuldade, nossa timidez, nossa desesperança tantas vezes, nossas fugas.
Os sete mil que também não dobraram os joelhos a Baal também se sentiam sozinhos. Mas nosso Deus não nos deixará sem a devida recompensa.
Para os insubordinados, Deus envia Elias para ungir três (agora um testemunho triplo de castigo) executores de juízo.
“E há de ser que o que escapar da espada de Hazael, matá-lo-á Jeú; e o que escapar da espada de Jeú, matá-lo-á Eliseu. Também deixei ficar em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda a boca que não o beijou” (19.17-18).
Nos tempos de Moisés, lá em Horebe, o Senhor havia lhe apregoado – “Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do Senhor diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer” (Ex 33.19). Era isto que Deus lembrava Elias, e também deve lembrar a nós – misericórdia a quem misericórdia, justiça a quem justiça.
Por fim, Elias é levado num carro de fogo aos céus, diante dos olhos daquele que ele havia ungido em seu lugar, Eliseu. Notemos algumas coisas.
Elias é retirado aos céus, não porque seu testemunho tivesse acabado, mas porque dava lugar a Eliseu naquele momento, representante da graça de Deus (comentaremos sobre ele no próximo livro). Elias, perfeito representante do Pai, e também de todos os profetas que madrugaram e profetizaram em nome daquele Deus Vivo inacessível, não podia, sozinho, perdoar e salvar aquela nação. Era trabalho do Filho que viria em seu lugar, na mesma condição da unção de Elias-Pai ungindo Eliseu-Filho.
“Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (At 10.38).
Por isto Deus promete o reenvio de Elias nos fins dos tempos para terminar sua função condenatória sobre o Israel ímpio e as nações rebeldes, uma vez que não creram a verdade revelada no Filho, como está escrito.
“Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro [o anticristo] vier em seu próprio nome, a esse aceitareis” (Jo 5.43).
Elias se aproxima rapidamente, e não devemos nos espantar quanto ao tratamento que receberão.
“E darei poder às minhas duas testemunhas [Elias e Enoque], e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco... E, quando acabarem o seu testemunho [a primeira que testemunha a Israel, a segunda para as nações], a besta que sobe do abismo lhes fará guerra, e os vencerá, e os matará. E jazerão os seus corpos mortos na praça da grande cidade [Jerusalém] que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde o nosso Senhor também foi crucificado” (Ap 11.3-8).
Mas antes que Elias volte, aguardamos o retorno bendito de nosso Salvador nos céus para buscar sua noiva. Que ela esteja pronta, bem vestida e disposta a fim de receber seu galardão completo.
Obrigado por me acompanhar até aqui. Logo lançaremos foco sobre o segundo livro de Reis.