Samaria que se Acabe! - 1Re6
Normalmente não gostamos de contrariedades. Temos que repensar nosso posicionamento, nossos conceitos ou preconceitos, e ainda ter que corrigir nossa postura diante de Deus e diante dos homens.
Havíamos comentado na introdução desta nota que dois nomes sobressaíam em maldade e corrupção nos governos do norte – Jeroboão e Acabe. Este construiu sobre as bases daquele. O resumo de seu governo está aqui.
“E fez Acabe, filho de Onri, o que era mau aos olhos do Senhor, mais do que todos os que foram antes dele. E sucedeu que (como se fora pouco andar nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate) ainda tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e foi e serviu a Baal, e o adorou. E levantou um altar a Baal, na casa de Baal que edificara em Samaria. Também Acabe fez um ídolo; de modo que Acabe fez muito mais para irritar ao Senhor Deus de Israel, do que todos os reis de Israel que foram antes dele” (1 Re 16.30-33).
Não vamos comentar sobre Jezabel, nome que virou sinônimo de impiedade e prostituição. Vamos comentar sobre o começo da cidade de Samaria, onde toda verdadeira prostituição cultual toma forma e força.
Onri, pai de Acabe, que também andou nos caminhos de Jeroboão, e cujo nome diz muito sobre seu caráter (grosseiro, impetuoso – que age por impulso, sem razão e muito menos pelo Espírito), comprou por dois talentos de prata o campo de Semer (‘borra de vinho’, conhecido também por fezes do vinho). Seu governo durou 6 anos (número do homem).
Interpreto os dois talentos como indecisão no caminho, como a orientação do Senhor que não devemos nos desviar nem para a direita nem para a esquerda, ou dizendo de outra maneira, uma segunda opção falsa, um atalho para o caminho difícil e santo do Senhor. A prata fala invariavelmente de testemunho. A borra ou ‘fezes do vinho’ fala daquela parte do vinho que sedimenta e não serve como consumo, no seu relacionamento com o sacerdócio. Uma passagem interessante liga esta borra com dois caminhos, aqui numa afronta ao Senhor numa aludida falta de atividade ou indiferença.
“E há de ser que, naquele tempo, esquadrinharei a Jerusalém com lanternas, e castigarei os homens que se espessam como a borra do vinho, que dizem no seu coração: O Senhor não faz o bem nem faz o mal” (Sf 1.12).
Semer comprou este campo e fortaleceu a cidade. Seu filho Acabe a transformou no centro ou capital de Israel e ainda a dedicou a Baal, ou seja, ali não era lugar para o Senhor nem seus filhos.
Como já frisamos na abertura desta nota, neste momento negro da história de Israel, o Senhor em seu zelo por seu nome e povo abre oportunidade para (re)conhecê-lo. No monte Carmelo (jardim), próximo ao Mar Mediterrâneo (“Carmelo junto ao mar” citado em Jr 46.18), Elias é levantado para o maior dos desafios. Os dois talentos são como que invocados por ele.
“Então Acabe convocou todos os filhos de Israel; e reuniu os profetas no monte Carmelo.
Então Elias se chegou a todo o povo, e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu” (18.20-21).
O silêncio do povo fala mais do que muitas palavras – Se dissermos que serviremos a Javé, Acabe nos destroça; se dissermos que serviremos a Baal, Javé nos pune! O desfecho todos nós conhecemos. Uma derrota glamorosa sobre todos os demônios invocados por Baal e sua esposa. Era o testemunho claro, inconfundível, uma oportunidade sem igual para aquele povo se converter ou se voltar novamente para o Deus de seus pais.
O sinal do Senhor em fazer esta prova longe de Samaria, capital de Baal, levando-os ao Monte Carmelo, situado às encostas do Mar Mediterrâneo como vimos, já vislumbrava um possível desterro se a nação como um todo não se arrependesse de seus pecados e idolatrias. E assim foi. Cerca de 135 anos depois foi lançado, como em figura, ao mar dos povos da Assíria e nunca mais voltaram.
Deus lhes deu mais de um século para se arrependerem. E se continuássemos falando sobre todos os reis seguintes de Israel até o cativeiro, veríamos ainda mais impiedade, crueldade, injustiças, idolatrias.
Temo que também nestes últimos dias da acomodada igreja de Laodiceia em que vivemos, também esteja com seu coração endurecido para ouvir a potente, mas misericordiosa voz do Senhor a nos conclamar.
“Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, Diz o Senhor Todo-Poderoso” (2 Co 6.14-18).
A seguir continuaremos nossa visão sobre Elias em suas muitas simbologias.