Um elemento estranho no templo de Salomão - 1Re2
Talvez a mais excelente conquista de Salomão tenha sido a construção do templo do Senhor. Centro de culto, adoração e unificação de seu povo, e sob as bênçãos de seu pai Davi, um templo de proporções e riquezas magníficas é erigido ao Senhor. Mas exatamente aqui começam os problemas.
Vamos fazer algumas comparações com o santuário do deserto, logo após a saída de Israel no Egito.
“Depois falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Eis que eu tenho chamado por nome a Bezalel, o filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de ciência...” (Ex 31.1-3).
“E enviou o rei Salomão um mensageiro e mandou trazer a Hirão de Tiro. Era ele filho de uma mulher viúva, da tribo de Naftali, e fora seu pai um homem de Tiro, que trabalhava em cobre; e era cheio de sabedoria, e de entendimento, e de ciência...” (1 Re 7.13-14).
Há uma diferença gritante entre um homem a quem Deus capacita pelo seu Espírito e outro que nasce e desenvolve tal aptidão invejável no currículo. A carne, por mais requintada que pareça, nunca suprirá as necessidades do reino de Deus, isto é tarefa do Espírito. E esta aptidão natural marcará o templo de Deus com características pagãs. Comparemos novamente.
“Hirão... filho de uma mulher viúva, da tribo de Naftali... seu pai um homem de Tiro... fez mais o mar de fundição [que se somava às dez pias de cobre], de dez côvados de uma borda até à outra borda, perfeitamente redondo” (7.14-23).
Eu desafio ao leitor e leitora encontrarem dentro do santuário original de Moisés, algum elemento circular feito por Bezalel. O círculo, como símbolo esotérico sem início e sem fim, representa unidade de pensamento ou forma espiritual, regidos não por Deus, mas pelo destino. O sentido usado não é que o círculo una pensamentos, mas antes escraviza, acorrenta, arrasta nos vícios e destinos do mundo sem Cristo, que jaz no maligno, na operação do erro e no espírito do anticristo.
Tudo era quadrado ou retangular no santuário de Moisés, representando faces que se encaram, que se desafiam, que se corrigem segundo o sentido comum usado pela Palavra de Deus:
“Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gl 6.1-2).
Mas neste caso específico da engenhosidade de Hirão, seu design arredondado está associado ao comércio profano e infindável de Tiro, cidade fenícia de seu pai, que é usada por Deus para tipificar o anticristo e o dragão em Ezequiel 28. Vamos ainda ter oportunidade para falar sobre este comércio.
No entanto, apesar da mistura insinuada sutilmente no templo que deveria ser para o Senhor, sua forma será aceita por Ele.
“E o Senhor lhe disse [a Salomão]: Ouvi a tua oração, e a súplica que fizeste perante mim; santifiquei a casa que edificaste, a fim de pôr ali o meu nome para sempre; e os meus olhos e o meu coração estarão ali todos os dias” (9.3).
Talvez já o Senhor indicasse, na sua soberania e graça peculiares, que um dia esta casa não seria exclusivamente para o povo da promessa, hebreus por excelência, mas para todo aquele que invocasse este Deus de Israel em justiça e em verdade.
Daí sua aceitação nos moldes do coração humano.
Mas é sempre bom lembrar que a casa em si mesma não era salvaguarda daquela nação, pois o Senhor vai acrescentar imediatamente ao versículo acima.
“E se tu andares perante mim como andou Davi, teu pai, com inteireza de coração e com sinceridade, para fazeres segundo tudo o que te mandei, e guardares os meus estatutos e os meus juízos, então confirmarei o trono de teu reino sobre Israel para sempre... Porém, se vós e vossos filhos de qualquer maneira vos apartardes de mim, e não guardardes os meus mandamentos... destruirei a Israel da terra que lhes dei; e a esta casa, que santifiquei a meu nome, lançarei longe da minha presença... E desta casa, que é tão exaltada, todo aquele que por ela passar pasmará, e assobiará, e dirá: Por que fez o Senhor assim a esta terra e a esta casa? E dirão: Porque deixaram ao Senhor seu Deus...” (9.4-9).
Ninguém deve se vangloriar de nada, absolutamente nada, que não seja o Senhor e seu sacrifício favorável e suficiente da cruz do Filho de Deus, e andar “como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4.1-3).
Em nossa nota seguinte, abriremos a arca e notaremos que lá só havia as tábuas da lei. Dois importantes ingredientes haviam sumido misteriosamente.