Jônatas – amor com restrições - 1Sm7
Quando nos baseamos nos erros descritos de certos personagens bíblicos, nossa intenção jamais é a de denegrir sua imagem ou nos isentarmos de culpa, como que nos desculpando pelos erros de terceiros. Não! Jamais! Nosso objetivo é trazer à luz as dificuldades de todo homem e mulher que vêm ao mundo do pecado, para tentar lançar luz em nossa jornada idêntica e fraca.
A Escritura é clara ao afirmar “que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo” (1 Pe 5.9). Ninguém está isento do erro, do vacilo, do pecado, da negligência espiritual.
Jônatas foi o grande amigo e irmão de Davi, num plano emocional que talvez poucos cristãos experimentem. Assim como Davi dedilhou sua arpa para apaziguar o espírito perturbado de Saul, Jônatas seu filho dedilhava seu coração nas duras provas pelas quais Davi passou pelas perseguições exatamente pelo pai daquele.
Houve uma como compensação – Jônatas retribuiu ao coração cansado de Davi a mesma paz que este proporcionou a Saul.
Mas não podemos deixar de ver e entender o limite seguro que Jônatas se manteve. Ele declarou toda sua amizade a Davi, ajudou-o em várias oportunidades belamente mencionadas na Palavra. Mas seu amor não chegou à intimidade do sofrimento. Ele não acompanhou Davi em seu desterro, diferentemente de muitos que o acompanharam por causa das suas dificuldades.
“E ajuntou-se a ele [Davi] todo o homem que se achava em aperto, e todo o homem endividado, e todo o homem de espírito desgostoso, e ele se fez capitão deles; e eram com ele uns quatrocentos homens” (1 Sm 22.2).
Ele não tinha problema em se associar com Davi na sua glória, como ele bem afirma e sugere.
“E disse-lhe: Não temas, que não te achará a mão de Saul, meu pai; porém tu reinarás sobre Israel, e eu serei contigo o segundo; o que também Saul, meu pai, bem sabe” (23.17).
Mas hesitou em segui-lo na perseguição e vergonha. O destino de um deve ser o destino do outro. Preferindo a companhia de seu pai, seu destino será a morte junto a este.
Não estamos julgando sua atitude, não sabemos seus compromissos com família, filhos e tudo que o cercava. Mas infelizmente, algumas vezes temos que tomar atitudes drásticas, radicais e próprias da fé. Jesus exigiria mais à frente tais atitudes.
“Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim” (Mt 10.37).
Há um prêmio seguro e especial quando abandonamos nossos privilégios e nos colocamos ao lado do Cristo sofrido e perseguido.
“E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna” (Mt 19.29).
Buscamos um Jesus glorificado, assentado à direita de Deus, mas esquecemos que enquanto estivermos aqui em baixo, o Senhor conclama – “E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim” (Mt 10.38).
Pedro, que no momento mais crucial da vida de seu Senhor, negou-o pela fraqueza da carne, entendeu perfeitamente a ligação dos dois extremos de Seu ministério.
"Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis” (1 Pe 4:13).
Bem podia antecipar o apóstolo João em seu desterro na ilha de Patmos, a mesma atitude de nossa Igreja Laodiceia nesta era final em que vivemos, segura de sua riqueza, mas esquecendo sua extrema miséria espiritual.
“Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu” (Ap 3.17).
Ajuda-nos, Senhor, a não nos envergonharmos nem fugirmos do resto das aflições de nosso Senhor que nos resta cumprir em nossa vida cotidiana. Cumpra-se a tua vontade, assim na terra como no céu!
E assim findamos estas considerações sobre o primeiro livro de Samuel e partimos, sempre acompanhados da gloriosa presença do Espírito de Deus, para seu segundo livro.
Espero que você continue esta jornada conosco, pois ainda temos muito que comentar, enquanto tivermos tempo para isto!