Em que consiste o amor?
Em que consiste o amor? Muitas vezes questionamo-nos sobre o que seria este tão vago momento, esta pequena ideia de paraíso que assola a memória daqueles que ainda hão de ir.
Certas vezes deixamos que muitas e tantas outras perguntas, que não são nada mais que hipóteses científicas mal calculadas, dominem nossos passos e governem nossas palavras, mesmo sem saber que a mão, antes de deferir o golpe, já sabe se será vencedora ou não.
Vivemos na espera de um segundo que possa perdoar todos os erros passados. Um segundo? É muito pouco tempo, mesmo que por segundos possamos salvar a vida pequena do homem. Talvez, procuremos um único minuto que possa nos libertar: aquele minuto final do filme.
Não sei o que acontece quando um homem ama uma mulher. Muito menos quando uma mulher ama a um homem. Não sei, também, o que acontece quando um homem ama outro homem, muito menos quando uma mulher ama outra mulher. Sei que quando amo alguém, acabo por perdê-la. Será este meu destino? Vago insano e perdido em meio à noite?
Nas estrelas, minha sorte. Porém, por que deixar em coisas tão pequenas a minha sorte? A depressão de olhá-las. Existe algo mais romântico e cheio de paixão que olhar as estrelas? Perdidas e confusas no meio escuro deste rio chamado vida. É como sentar na beirada de uma estrada em um pôr-do-sol: você fica lá sentado, olhando para o horizonte, na espera que um raio de sol, o último, toque sua pele e te deixe sentir a liberdade. Só que a gente sabe que o último raio de sol tem uma curvatura física e nunca toca o chão.
Deixamos, então, o sol partir e seguimos para a estrada de novo. Aceleramos um pouco para fugir da noite obscura, mas como somos idiota! Se nós esperamos até o último raio de sol partir, como queremos fugir da obscuridade da noite?
Ainda mais porque quando chega à noite, lembramos das estrelas. Nelas, nossa sorte. Seria muito bom se aquele pássaro azul, que quer sair, saísse. Porém, a gente não deixa. No final da contas, sabemos que sonhos são apenas aqueles doces que comíamos quando crianças.
A noite segue. Firme. A estrada parece que vai ficando cada vez menor e mais distante do ponto em que partimos se é que ainda consigo olhar para trás. Devemos olhar para frente, mas o que é aquilo lá atrás? Vejo que a luz parece tocar o chão.
Por pura curiosidade deveria voltar, mas o que seria, pois, da minha estrada a ser percorrida? As milhas que ficaram para trás não deveriam ficar lá? Então, eu, por minha conta e risco, volto. Quando volto, eu vou revendo tudo por onde passei.
Vejo que atropelei um esquilo, pobre. Paro para ajudar, mas é tarde. Ele morreu. Enterro, pelo menos. Sigo voltando. Vejo um cego na rua: “Ajude-me com uma moeda,” Agora que tenho tempo para ler, eu resolvo dar a moeda.
Só que no momento em que dou a moeda, lembro-me do pedágio e resolvo dar uma nota, afinal, moedas sempre ajudam a pagar o pedágio. Sigo voltando, mas parece que o maldito começo, ou melhor, o ponto de partida ‘inda está longe. Afinal: eu percorri tanto assim da estrada. Mas a noite mal começou.
Volto e vejo: mulheres, crianças. Uma velha sendo assaltada. Sinto cheiro de cigarro e vejo dois meninos fumando, mas são muito novos. E sigo voltando. Vendo tudo o que não podia ver por medo de parar para olhar. Até que finalmente eu chego de volta até o lugar onde eu vi o último raio de sol do dia.
Olho para trás e relembro sobre o que eu estava falando. Sobre o que pensava. Pensava na definição de amor. Em que consiste o amor? Seria uma estrada que percorremos em vias de chegar a algum lugar? Seria a sorte que deixamos nas mãos das estrelas? Não.
Em que consiste o amor, então? Ele consiste na capacidade que o homem tem de olhar a estrada no meio da noite e ver um raio de luz. Um raio de luz que o faz voltar para trás e seguir reparando os erros, olhando os passos, desviando da tentação. Um raio de luz que faz o homem voltar a sua essência... E qual é?
Pois é, ainda não sei se cheguei até o meio raio de luz.