RELATO DE EXPERIÊNCIA (02)
Um dia conheci e amei Conceição, uma jovem extrovertida, alegre, cheia de si e convicta de vida!
Creio que foi amor a primeira vista... porque dentro de tão pouco tempo, nossa amizade parecia ter séculos. Ríamos de coisas bobas, falávamos da vida de casadas e estudávamos no mesmo colégio, fazendo curso de Magistério. Cá entre nós, nossas habilidades para dar aulas... era uma coisa nata e muito prazerosa.
No Último ano de Magistério ficamos grávidas e quase ao mesmo tempo. Eu dei a luz a um menino, no dia oito de setembro de mil, novecentos e oitenta e quatro. Ela também, deu a luz a um menino quinze dias após eu ter dado. Eu coloquei no meu filho o nome de Lucas e ela: Robson. Com apenas doze dias de nascido, Lucas já estava na sala de aula. Já Robson foi aos dois meses, para que conhecêssemos. Eu não possuía parente, nem alguém que pudesse ficar com Lucas. Logo para todo lugar eu o levava. E fui privilegiada, pois o colégio permitiu.
Quando Conceição viu Lucas pela primeira vez, se encantou. Sem dúvida ele era um bebê muito fofo! E na sala, ela o pegava e o amamentava também, já que meu leite havia secado por causa do corre-corre. Eu, mãe de quatro filhos, fazendo um curso super puxado, por serem dois turnos e às vezes até três... já que, duas noites por semana, quando havia prática da aula de Jogos e Recreação. Eram dezenove matérias. Fora outras coisas... e quase que eu enlouquecia de ter que me virar em muitas, ao mesmo tempo. Mas tudo foi superado com êxito.
Bem voltando ao assunto, dessa minha amiga Conceição... ela dizia que era a mãe de Lucas. Por ser muito bonita. E que eu era a mãe de Robson. Que era um garotinho forte e com a cabeça avantajada. Sempre que podia eu a aconselhava a não discriminar seu filho. Mas ela continuava... e dizia que houve um erro na maternidade. Lucas era pra ser seu filho e Robson, o meu. Isso me deixava chateada às vezes, porque ela olhava para o filho e o chamava de feio.
Final de ano e nossa festa de formatura foi muito bonita. Também nós tivemos os melhores professores de Salvador. Uma equipe organizada por uma excelente profissional. A professora: Suzete. Uma mulher de fibra, que queria muito mudar a realidade de um bairro pobre. Tentou de várias maneiras, pôr um curso eficiente e autêntico, mas foi também por diversas vezes, impedida de continuar, pela Secretaria de Educação. Então ela mesma convocou professores de escolas particulares e fez o curso acontecer. Lembro que até a farda era diferente dos demais cursos. Tudo muito bem elaborado. Aulas de: Psicologia, Filosofia, Prática de Ensino Fundamental de Matemática, Metodologia da Matemática, Prática de ensino Fundamental de Ciências, Biologia, Português Integrado, Redação, Sociologia, Química, Física, Artes Cênicas, História, Geografia, Desenho Fundamental, Jogos e Recreação, Literatura, Inglês e Educação Física.
Nosso estágio foi um dos melhores! Tínhamos dois professores inspecionando cada aluno em sala de aula. Ficávamos nervosos, mas no final tudo valeu à pena.
Depois disso nos separamos. Conceição foi dar aula no próprio bairro que morava e eu, fui dar aulas na mesma Escola que estagiei, por motivo de ausência de professores. Lembro que fiquei em duas salas de aula, uma ensinando no segundo ano primário, pela manhã e outra no quarto ano primário à tarde. Foram quatro longos anos... sem ao menos ser oficializada no ensino Público.
O tempo passou depressa e entre muitos afazeres... não revi mais a minha amiga e mãe de leite de Lucas.
Hoje soube que ela estava muito doente. Um mal sem cura e veio a falecer. Levou seu sorriso gigante, sua beleza incandescente e sua doçura com seus alunos. Deixou três filhos e a saudade daquele tempo...
Ao saber dessa triste notícia, tudo veio à frente... Lembrei do passado... de nossas alegrias e promessas de amizade.
Mas fazer o quê, quando o destino nos escreve sem a probabilidade de retornos?
E bem que eu poderia ter ido visitá-la, afinal sabia onde era sua casa, tive lá várias vezes durante o curso, e depois dele também. Mas fui deixando pra depois e esse depois que nunca poderá ser recuperado... Eu a amava, apesar de tudo. Dávamos-nos muito bem. O que eu não gostava nela, era a maneira como ela via o filho. Eu sempre lhe dizia: Veja seu filho com olhos de mãe, olhos de mãe ver beleza onde não há. Porque nos olhos de uma mãe, apenas há amor! Ela me olhava seriamente, sorria livremente e me dizia: Cris com toda certeza trocaram nossas crianças. Eu sou muito bonita, como poderia ter um filho feio? Já você minha amiga, não tem um padrão de beleza, mas seus filhos?... São lindos!... e acabávamos rindo de tudo!
É assim que me lembrarei de Conceição, uma bela mulher! Sofrida por conter nela uma beleza rara, porém eternamente seremos Amigas.
Fim desta, C. Santos.
(Agradeço sua atenção, sua paciência. Em ler mais este texto, que compartilho. Abraços carinhosos e que Deus nos abençoe sempre e que sempre possamos colocar a frente de tudo, O Infinito Amor de Deus! Com toda ternura: Akeza, Amor & Poesia!)