Interesse e Amizade
Todo relacionamento humano é baseado em algum tipo de interesse. Isso não é um pensamento totalmente egoísta, mas só nos aproximamos de quem achamos interessante. A título de exemplo, ter um amigo educado, inteligente e bem-sucedido, que possa nos dar uma força quanto a como construir uma carreira, é um interesse sadio. Ter amigos bons de bola para formar o time do bairro, também é um interesse normal e sadio, dentre outros.
A questão é que existem os sugadores do próximo. Muitas pessoas não fazem nenhuma questão uns pelos outros, ou só se aproximam com base em interesses não-sadios. Acredito que em algum nível, todos já sentimos a impressão de que certas pessoas só se aproximam de você, só lembram seu endereço, só acertam na agenda do celular o seu número telefônico, quando precisam de algo muito latente que você tenha condições de oferecer, como a carona para algum evento, estar com dinheiro para bancar tudo numa saída, objetos que possam ser solicitados a título de empréstimo, aquela casa de praia que possa ser cedida para uma festa de fim de semana, etc.
Poucas são as pessoas que se prestam a estar com o próximo para uma simples conversa descontraída, sem grandes interesses, para assistir um filme que todo mundo já viu, ou, o que é ainda mais importante e muito mais escasso, estar ao lado de um amigo quando ele está precisando de apoio, de distração, de ajuda por algum momento difícil em trânsito.
Com o advento das redes sociais e meios digitais, a coisa toda ficou ainda mais fria. Imagino que vocês tenham um número considerável de contatos no facebook, ou de amigos na lista de favoritos no seu whatsapp, mas pergunto: quantos deles, com alguma frequência, iniciam uma conversa com você, sem maiores interesses? Quantos te chamam para um bate-papo tão somente para saber como você está? (não vale contar os interessados em parcerias amorosas, pois nesse caso a atenção é extremamente vinculada ao desejo de conquistar o outro).
Os mais generosos sofrem diante do comportamento dos mais egoístas. O generoso até pensa em perseverar com seu comportamento, como forma de compadecer o egoísta, a ponto de torná-lo mais generoso. Ledo engano. O pano de fundo generoso só torna os egoístas mais egoístas e conformados. Tudo exploram, e pouco se importam. Claro que, muitas vezes, de forma bastante inconsciente.
Confúcio dizia que para reconhecermos os amigos é preciso se passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade. Na desgraça, a qualidade. Shakespeare disse que amigos são a família que nos foi permitido escolher. Platão defendia que a amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro. Francis Bacon dizia que a amizade duplica as alegrias e divide as tristezas. A Bíblia traz o que talvez seja a melhor balança diante desta situação. Em Provérbios 17:17 temos que em todo o tempo devemos amar o amigo, e para a hora da angústia nasce um irmão. Este seria o tratamento para os verdadeiros amigos. E o que fazer com os sugadores? 1ª Coríntios 15:33 adverte: Não se deixem enganar, as más companhias corrompem os bons costumes.
Que possamos então pensar um pouco sobre o real sentido da amizade, e acima de tudo, meditar sobre que tipo de amigo somos com muito mais intensidade do que avaliar o que nossos amigos tem a nos oferecer.
SANDRO FRANÇA