MENSAGEM A UM AMIGO DISTANTE
Você, amigo, de mim tão distante
Desfia, conta a conta, o rosário dos seus dias.
Vendo os anos se escoarem na ampulheta do tempo,
Também carrego o fardo do destino.
Lembro-me de você,
Quando, com voz solene, relatava
As suas recordações...
O pueril vadiar, ensolaradas praias;
Marulhosas águas do rio
Que embalou sua infância;
Aromas e sabores de fruta madura;
Amigos, travessuras,
Arfantes cavalgadas...
E, sonhador, ainda, desvendava
Anseios do seu porvir:
Arrojados projetos,
Glórias a desfrutar.
Buscando compreender,
A força do seu querer,
Eu, austera, escutava.
Célere transcorria a vida trepidante:
Silêncios e sussurros
Na mansidão da noite;
Que segredos trocados!
Que ações cometidas!
Recordo-me vestida
De uma branca veste,
Murmurando orações...
Súplica inspirada
Em sugestões
De códigos secretos.
Versos... Canções... Copiosos jantares...
Chuvas torrenciais, loucas escapadas,
Gracejos... Carinhos... Surpresas... Descobertas;
Em maus dias, a dor de trocar palavras amargas...
Mágoas confessadas, lágrimas sentidas...
Quanta impaciência, disputas banais...
Que dizer de alegrias renovadas?
A medalha de ouro (São Jorge Guerreiro)
{“Quero dar-lhe um presente, enquanto vamos juntos...”}
Em busca dos sonhos cobiçados,
Você ganhou o mundo...
A cegueira do amor arrastou-me a abismos,
Onde o abandono embotou-me ilusões,
Calcinou-me esperanças.
Nas sendas da solidão,
Exilada pelo esquecimento,
Perdida estou
Em siderais geleiras,
Onde o silêncio habita,
E chovem estrelas.
Num álbum de lembranças vejo seu retrato:
Estampando alegria... Vivida esperança!
Nunca o desalento
Que hoje vislumbrei nesta foto recente:
Uma amarga expressão apagou do seu rosto
O radiante olhar que conheci outrora.
Pergunto o que lhe fez a vida tão sonhada?
Que má sorte ao seu rosto trouxe o desencanto?
Que pesar, que incerteza, que indizível quebranto,
Toldou a antiga luz do seu olhar vibrante?