"Introdução" ao livro "Por que escrevo?" (organização de José Domingos de Brito),
por Daniel Piza, crítico de arte e literatura, escritor e editor de cultura d'O Estado de S.Paulo.
"Introdução" ao livro "Por que escrevo?" (organização de José Domingos de Brito), por Daniel Piza, crítico de arte e literatura, escritor e editor de cultura d'O Estado de S.Paulo.
Uma vez perguntaram a Louis Armstrong o que era "jazz", e o grande Satchmo respondeu: "Se você precisa perguntar, não vai entender nunca". Às vezes me pergunto se a mesma resposta não valeria para a pergunta "por que escrever?". Mas quando se lêem as frases tão diligentemente colhidas para este livro, descobre-se que tentar responder é tão natural e produtivo quanto querer perguntar.
Talvez haja uma diferença entre música e literatura aí: Aquela se afirma imediatamente, pela força de sua imaterialidade; esta precisa ser sempre colocada em dúvida, senão não terá a sua força própria. Literatura nasce da autocrítica, e é por isso que este volume é tão indispensável: Autocríticas só fazem sentido quando partem da pergunta fundamental.
É curioso notar como há os mais diversos tipos de resposta. Há os que desconversam, os que justificam, os que sentimentalizam, os que racionalizam, os que tergiversam e os que versificam... A resposta final deve estar em algum lugar na soma de todas essas, ou em seu intervalo.
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Na verdade, se eu fosse tomar uma única frase desta compilação, não como resposta definitiva à pergunta "por que escrever?", mas como expressão representativa de todas as outras, eu ficaria com a opção de William Faulkner, pela dor em prejuízo do nada. No nada não existem perguntas e muito menos respostas.
"Por que viver?", claro, é uma pergunta convencional, mas para fazê-la é preciso estar vivo. Um escritor só escreve se quiser, e o mais complicado é que essa intenção não corresponde a uma simples responsabilidade individual ou social. Escritores fazem mal ou fazem bem, depende de quem os leia ou não os leia. Só que não existem livros sobre "por que ler?". O escritor não é uma voz no deserto, mas, de certo modo, se sente assim — ou precisa se sentir assim. Mas eu, se fosse você, leria este livro ["Por que escrevo?"].
Daniel Piza, crítico de arte e literatura, escritor e editor de cultura d'O Estado de S.Paulo.
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