Cartas

Do alto de mim mesmo, me despeço da tarde que seu vai em mim, do dia que volta no outro dia e que, em mim, não se envolve mais. O peso de minha vida pesa em meus olhos quando olho para aquilo que criei. Sinto-me sufocado pelo sufoco que manipulei com asas que criei. Aquele que me guiou em vida, agora morto, elevo meu pensamento a ele pensativo e alegre pela tristeza de não ter vivido o certo; e agora revivo a olhos molhados pela falta do vazio agudo que o tempo insiste em dizer: ja fui. A tarde cai, como meu semblante, cai como meu ego. Minha alegria ia junto com você quando você chegava... haaa! Que delicia de sensação. Que ar gelado de tarde para noite. Aquele posto de gasolina testemunha meus passos de pés pequeninos. Era para lá que tú ias com teu caminhão de trabalho; em nossa casa não cabia e nem tinha acesso a ruas, pois não tinha ruas, era uma depressão que nenhum caminhão suporta, nem o seu, meu anjo protetor. Minha alegria saltitava de dentro para fora, sendo que por fora meus olhos viam os teus sobre os meus como forma de amor infinito. Era minha aventura preferida e esperada, que saudade me dá. Meu querido velho eu me protegia em ti; eu subia nos ares da alegria. O tempo não passava ao te esperar e de longe meus pensamentos te dava asas para chegar mais rápido teu caminhão. Acompanhava teus passos como um pequeno filho frágil ser teu. Posso sentir até agora a inóspita sensação que dentro de mim suporta e não suporta meu desejo de estar só outro lado, para ver como é dormir no mundo dos que não voltam. Não sei descrever o descritível, já que escrevo só para ti. Você se lembra? Quando subia, te acompanhava meu lindo herói; trazia comigo o prazer e a sensação de te amar. Um filme velho e sujo se passa sobre mim e pergunto quando volta. Fui contigo, eu estou aqui comigo e com nós dois, partindo a alma em dois lados: uma está aqui, a outra me faz lembrar. Você me aperta agora, abraça-me luz espiritual. Tudo parece saudade. Não, não parece! Eu aqui , ainda vivo na grade, te vendo ir, mas não de mim. De mim eu tenho tudo de ti, de ti tenho o que Deus me der. Revogo tudo o que em mim te chama. Parece que estou aqui vendo tudo acontecer. Está acontecendo que nas folhas que me fazem pensar do que escrevo. Sou eu quem vivo a falta de ver que eu estou aqui e você está em mim. Sou criança quando escrevo, sou lembrança quando sonho, sou sonho quando choro e choro sempre que estou aqui.

ECruz
Enviado por ECruz em 23/02/2023
Reeditado em 30/04/2024
Código do texto: T7726171
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