Qual a lembrança?

A qualquer hora eu posso ir. E daí? Serei lembrado ou esquecido? Tanto faz? Ser lembrado por ter deixado rastros positivos por onde passei? Ou lançado nas regiões abissais do esquecimento por ter perdido as incontáveis oportunidades que a vida me deu - mesmo que ela tenha sido breve - mas eu, tomado por sentimentos de semideus, atropelei a todos covardemente? A vida escorre por entre os dedos semelhante às águas ou ainda mais: não a temos controle, possibilitando a ela uma analogia com as substâncias mais voláteis existentes. Por ser o momento agora quase inexistente, posto que, abruptamente, já é passado, devo fazer tudo o que me vem à cabeça? Se penso que tudo termina quando o meu corpo deixa de contar com o fenômeno vida, tudo certo, sem mais discussão? Caso eu tenha alguma experiência, seja ela por medo ou por outras razões quaisquer, que após o corpo ser depositado num jazigo, quiçá emprestado de um parente ou amigo, eu tenha algo a mais pela frente e alguém a quem devo lhe prestar contas, aí devia eu não fazer tudo que me era conveniente?

É o intervalo entre o respirar e a total inércia do corpo trazendo a mim algumas inquietações.

ERALDO CUNHA
Enviado por ERALDO CUNHA em 14/07/2021
Reeditado em 03/01/2022
Código do texto: T7299551
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