Tem pão no Céu...

No céu tem prozac

Para Francisco, quatro anos, Brasil, Seca do 93; ele partiu depois de perguntar à mãe se no Céu tem pão.

Sob a ira de Zeus,

o monge balbucia,

entoam-se os mantras sagrados,

aperta-se o cilício,

o globo se equilibra,

em peripécia

e gira.

Adiam-se-lhe os minutos,

ao gesto do amor,

sacrifícios e devoções:

êxtase de Margarida,

êxtase de Madre Teresa,

êxtase do Cura D’Ars,

êxtase da irmã Dulce;

gira e gira,

sustida em piedade, Colunas de Hércules,

Atlas da Fé — a destruição merecida —,

gira e gira — adiada —

a serviço do mal,

sob o império do mal,

o mundo gira e gira...

Os santos vigiam e guardam, só eles:

vigiai e orai!

— Mãe, no céu tem pão?

Pois nem só de pão vive o homem:

há que ter pão, do céu,

ao espírito;

há que ter pão, em cima da mesa,

aos escolhidos;

há que ter pão, debaixo da mesa,

aos enjeitados;

sempre existirão pobres convosco,

migalhas a Lázaro;

ao banquete, as libações:

— Saúde, muita saúde, Coronel!

Tem, filhinho, muito pão,

pão-doce, pão-seco, muito pão,

.................. aquele,

............................ bem gostoso .........................

................................................................................ durma, filhinho,

amanhã, deixo você brincar...

Durma, meu amor.

Auriverde pendão de minha terra,

que a brisa do Brasil beija e balança...

Famintas do meu Brasil

precisam sonhar com um pão,

as crianças, às portas do Céu,

para entrar no Céu;

verás, infante,

não há país como este;

em se plantando, ó Caminha,

sim, plantaram,

plantaram nas algibeiras,

onanistas do metal;

plantaram fora, nas Flóridas,

plantaram no sigilo, Gstaad,

plantaram a mandioca,

sob a Floresta, sobre o calcário, no pampa imenso,

vinte centímetros, dizem,

cobriria a Cisplatina,

aterraria o Prata...

Em se plantando, seu Caminha,

o que dá, não dá;

o que deu, não deu,

nunca deu...!

o que deu, o gato comeu;

o que sobrou, o rato roeu.

———— Tem mesmo, mãe, tem...

verdade,

lá,

no céu,

tem pão?

(Em tom de ninar, em voz só de mãe):

Desce gatinho,

de cima do telhado,

para ver o Francisquim

dormir bem sossegado...

Desce, gatinho,

de cima do telhado,

para ver o Francisquim

dormir bem sosssegado...

Adormeceu ...................................... :

Dormiu.

Causa mortis:

inanição,

morte.

E dormimos,

todos,

o sono dos justos:

In,

in memoriam;

in,

infamiam;

in,

injustitiam:

Prozac!

Texto de Soares Feitosa

***

Eu pergunto:

Que Pátria Amada Brasil é esta?

Quando teremos respeito?

QUANDO...

Dama De Negro
Enviado por Dama De Negro em 14/11/2005
Reeditado em 14/11/2005
Código do texto: T71635
Copyright © 2005. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.