ESPELHO
Olho no espelho e vejo além de mim.
Não, não quero ver, mas vejo.
Não há linha de tempo que apague o que o espelho escreveu em meus olhos.
Sim. Vi e li.
O tempo passou.
As marcas registram o fato no ato.
Sem arrodeio, sem delongas, sem demora.
Ah, o tempo me diz, você é afortunada por ter estes traços marcantes da experiência.
Não precisa dizer nada.
Há o registro.
Não pediu licença, não houve consulta, apenas a marca.
Aproximo e vejo sutilmente as finas linhas que marcaram gestos de amor.
Sim, mas o que assusta é o que o estrago das dores deixaram.
São expressões que ninguém apaga e está a luz clara na visão do outro.
Não é preciso lupa.
Dores silenciosas.
Eu sei e você sabe.
Nem plástica, nem Botox, nem nada tira as marcas internas.
Ah meu amigo e companheiro espelho que não esconde meu eu.
Nem o tempo, nem os momentos, nem fotos, nada é tão real.
Sim, esta sou eu.
Escrita, não lida, mas é a vida.