Pessoinha querida

"Aquelas capas eu guardo no coração. A roxa todos amam de paixão. Criatividade e sensibilidade caminham par a par. Gratidão ainda é uma palavra pequena para externar o sentimento de que ainda vale a pena. Você, pessoinha especial, também mora no meu coração. Você pode pensar que me esqueço, que não me importo, mas me importo sim, me sinto feliz por saber que não estou sozinha, por mais que as circunstâncias me entristeçam.

O caos é inevitável. O mundo é especialista em roubar sorrisos. Dos elogios mais doces se escondem os golpes mais traiçoeiros. Algumas pessoas só te amam enquanto você diz o que elas querem ouvir. Na real, o ódio venceu o amor. Até quem se diz pelo amor é movido pela falta de empatia, pois ela é seletiva.

E dói.

O próprio amor chora por conta dessa distorção que segrega e oprime no lugar de acolher. No fundo são egos, egos que querem se sobressair, que almejam holofotes, que até podem 'mudar o mundo', desde que se tenha um celular registrando tudo e um textão no Instagram. Tudo se limita a isso. Militar para quem se considera mana e não ter compaixão por quem precisa de amor só por ter outro jeito de ver o mundo. Por vaidade.

Está cada vez mais difícil viver. O tal do "um dia de cada vez" se aplica com primor ao contexto. Aqueles que se dizem amigos vão te deixando para trás. Você sabe que o radicalismo está os levando para o fundo do poço, que estão se tornando cada vez mais intolerantes quanto quem tanto odeiam.

Dói me sentir cada vez mais distante de pessoas que eu achava que estariam sempre comigo.

Dói, dói demais...

Às vezes eu me pergunto se vale a pena continuar vivendo. As lágrimas quentes caem. Fujo do meu quarto para não ser engolida pela espiral de pensamentos intrusivos porque sei que se cheguei a esse extremo foi por culpa minha, porque num dado momento deixei de escrever com liberdade e amor para cumprir as expectativas de quem hoje nem de mim faz questão.

Mas eu te recomendo ser forte...

Saiba que essas pequenas gotinhas de amor que você espalha por aí respingam em você e deixam sua alma mais perfumada... Nunca deixe de ser assim, de expor seus sentimentos, pois são as pessoas verdadeiras e profundas as mais encantadoras...

A Tita mostrou que às vezes não se tem escolha: é preciso resistir aos dias mais escuros para sobreviver no mundo de feras. Revidar o ódio com mais ódio é perpetuar esse ciclo nefasto.

Passei por muito bullying, sei na pele o que é querer largar a escola, o que é sentir pânico domingo à noite e não entender por que sobrevinham as crises de choro e o sono fugia de mim, por que minha barriga doía, por que eu me sentia acuada e agressiva no caminho, por que eu queria fugir quando me aproximava daquele portão de ferro.

Sei o que é ser eleita a menina mais feia da sala, aloprada por meninos idiotas que se divertiam me fazendo chorar e me insultando como se eu fosse uma aberração indigna de ser amada e desejada, ouvir as outras meninas me chamando de esquisita, anormal, estranha, de saber que elas me odiavam e depois me chamavam de paranoica porque eu sabia de tudo isso, que elas não eram amigas nem colegas de verdade, pois das fotos eu era excluída, dos aniversários e outros bons momentos nunca recebia convite...

Cansei de chorar e ser chamada de fraca, acusada de querer atenção, de ser egocêntrica e me fazer de vítima, quando eu era uma vítima (por mais que esse papel seja horrível), não há autoestima que suporte tanto massacre e sobreviva incólume.

Você sabe até onde pode suportar. Por consentimento ou não, as pessoas cuspiam nos meus limites e depois debochavam quando eu agia como uma humana, porque eu chorava, porque eu tinha, apesar de toda humilhação sofrida, o atrevimento de perguntar o porquê daquilo, eu só queria ser aceita...

Eu só não imaginava que existisse tanta gente que passasse por situações semelhantes e até piores.

Num dado momento eu foquei muito no romance e, tudo bem, dei à Tita numa época da minha vida aquilo que queria ter e nunca tive: alguém que beijasse meus cortes e me protegesse daquela horda de pessoas que me queriam mal, que não gostavam de mim simplesmente porque eu respirava, mas agora entendo, por questão de honra, que preciso expor meu sofrimento porque dessa forma quem passa por isso nesse exato instante e também chora atrás de uma tela vai saber que não está só. Com ou sem romance.

O romance chamava as leitoras, era muito fofo, muito legal, mas não era o centro de tudo.

Eu não tive ninguém para me salvar. Se suportei tudo, foi por Deus. Se dependesse de mim ou teria me matado ou largado os estudos. Ainda bem que os professores viam potencial em mim, por isso não entendiam o que acontecia porque sabiam que eu era uma garota curiosa e interessada em aprender, mas as notas não diziam isso. Claro, eles não sabem que eu ouvi uma menina falando que não suportava as minhas perguntas, que se irritava de ouvir a minha voz, que eu era uma pessoa chata e por causa dela eu nunca mais quis tirar dúvidas com os docentes, achava que essa era a razão pela qual eu não era amada e popular.

Se eu fosse contar cada humilhação, cada coisa horrível que ouvi, que engoli em seco, com um bolo na garganta, muitas vezes chorando por dentro, você poderia dizer que a Tita e eu somos a mesma pessoa.

Não precisamos de armas para fazer nossa justiça. Não precisamos estourar crânios para vingar nossa honra depredada. Não precisamos sujar nossas mãos de sangue para sermos heróis e heroínas. Podemos ser de carne e osso, lembrar que existe um mundo muito maior do que o perímetro de uma escola e que temos uma missão a cumprir por aqui, precisamos então aquecer nossos sonhos e cuidar deles para que sejam a nossa luz nesses dias de trevas, em que tudo exige muito de nós.

Nossos sonhos são mais importantes que o ódio. Na nossa história de vida o amor vence. Que acima de tudo, sejamos nós mesmos.

Obrigada por ter alimentado a Tita com amor. Por ter gostado da minha pessoa. Por acreditar que tenho algo a dizer. Por ser uma dessas pessoas boas que a vida sempre trata de nos apresentar para nos provar que vale a pena insistir e deixar o coração bem aberto.

E eu também agradeço aos que me disseram que eu nunca teria futuro escrevendo, eles estavam e sempre estiveram errados. Eles só não queriam que eu acreditasse que eu não era tudo que eles diariamente queriam me convencer de que eu era.

A eles, meu muito obrigada.

Se eu nunca tivesse sofrido bullying, nunca entenderia que palavras matam sonhos, desfazem sorrisos, nunca valorizaria uma amizade, pois só quem encarou a solidão e a exclusão compreende o quão doloroso é não se encaixar a nenhuma tribo (panelinha, grupinho, etc.), e tentar, tentar de verdade para não te acusarem de ser arrogante, mas até onde deviam falar de Deus, encontrar ódio, falsidade, fofoca e mentiras, pessoas que queriam fazer tudo o que condenavam.

Com 15 anos eu não tinha noção de que tudo que faziam comigo era bullying, agora eu sei e com base em tudo que passei, quero que minha personagem possa ser companhia para alguém que passa por tudo (ou até pior do) que passei e ao ler tudo, sinta forças para enfrentar essa corda bamba e chegar ao outro lado da ponte.

Obrigada, pessoinha querida, por me oferecer um pouco de amor. Estou desacostumada a receber carinho das pessoas, tenho me sentido esquecida por todos, portanto saiba que te agradeço por se lembrar. Pelo seu gesto. Por ser, talvez, a amizade que me faltou lá atrás, mas tudo acontece quando tem de ser.

Saiba que as portas do meu coração e das minhas redes estão abertas para que você se sinta em casa."

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 04/07/2019
Código do texto: T6687823
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