EPITÁFIO PARA UM CONDENADO

Como todos nós estamos de passagem neste plano, cada um deverá cumprir a sua parte, com dignidade e garra. A galhardia que possa sobrevir é adjetivação para ser posposta por outros, se houver. O decurso do tempo trará flores e nuvens, cada uma delas com suas imantadoras cargas. Como condenado ao pensar, acredito no rastro dessa passagem e entrego ao futuro o que pude construir na cabeça das pessoas. Por fora, com o olhar dos ventos e dos sonhos, o desejar de um porvir risonho para cada vivente. Por dentro, a intenção de adensar o pensamento lúdico e lúcido, afim de poder domar os neurônios na hora dos atos; das tão naturais perdas emocionais e às quais nunca aderimos com a devida tolerância, e muito fôlego e paciência à hora de emitir decisões que atinjam muitas pessoas, mudando seus destinos à revelia de suas vontades. Somos, por vezes, o cajado de apoio do andarilho parceiro de itinerário; noutras, o instrumento do Absoluto em busca de caminhos. Feliz de quem passa pelo planeta e se sente vívido e útil na sempre reconstrução da boa semente. Que o terceiro olho nos mostre a verdade sempre buscada.

– Do livro inédito O CAOS MORDE A PALAVRA, 2017/19.

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