Campos da Paz
Nos templos de colheitas longínquas, ouvi sua voz.
Veio como o trovão inundando meu coração.
Trouxe nas águas férteis que fecundaram minha alma
As questões de fogo que antes não se fizeram existir.
Seus olhos eram de brasas
Seu corpo de pedra polida pela labuta diária em se fazer maior.
Seus cabelos refletiam a luz amarela do sol
E suas mãos moldadas na espada flamígera
Dilaceravam as dúvidas, rompiam os frutos e faziam crescer a indagação.
Pisou o mármore branco dos infernos internos quando ainda se fazia pequeno.
E na noite em que se fez pura luz, não dormiu, nem comeu, apenas respirou.
Dele nada se via. Dele apenas se intuía.
Arrancou da minha boca o doce e trouxe o fel.
Fez-me revirar entre as brumas do incenso,
E no sussurro do vento, trouxe apenas mais inquietação.
E eu, mortalha alheia à veste física que no fragmento do tempo me possuía
Bebi do seu verbo, senti sua força e mergulhei no lago de fogo da sua existência.
Os templos por vezes se aquietaram.
O fogo por dias, foi amenizado.
Mas na ritualística das ondas que me ferem e me cobram, ouço sua voz ressoando noite adentro.
Campos de trigo, vinhos espumantes, descanso por fim nos campos da paz.
Um dia, todos serão dias de retorno.
Apenas por amor.