Elucidação...

Explico agora o porquê de amar esses poetas:

Fernado Pessoa por ser um poeta controvertido.

Carlos Drummond de Andrade meu poeta memorável.

Florbela Espanca por seu estilo peculiar.

Vinicius de Moraes por ser o nosso poetinha.

Cecilia Meireles por seu lirismo espontâneo.

Auta de Souza por ser a cotovia mística das rimas.

Raimundo Correia por sua perfeição formal.

Esses nomes estão escritos em meu perfil pois não poderia esquecê-los!

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Um pouquinho de cada um deles:

Autopsicografia

Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

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Ausência

Carlos Dummond de Andrade

Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim.

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Eu …

Florbela Espanca

Eu sou a que no mundo anda perdida,

Eu sou a que na vida não tem norte,

Sou a irmã do Sonho,e desta sorte

Sou a crucificada … a dolorida …

Sombra de névoa tênue e esvaecida,

E que o destino amargo, triste e forte,

Impele brutalmente para a morte!

Alma de luto sempre incompreendida!…

Sou aquela que passa e ninguém vê…

Sou a que chamam triste sem o ser…

Sou a que chora sem saber porquê…

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,

Alguém que veio ao mundo pra me ver,

E que nunca na vida me encontrou!

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Soneto de Fidelidade

Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

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Motivo

Cecilia Meireles

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.

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Agonia do coração

Auta de Sousa

"Estrelas fulgem da noite em meio

Lembrando círios louros a arder...

E eu tenho a treva dentro do seio...

Astros! velai-vos, que eu vou morrer!

Ao longe cantam. São almas puras

Cantando á hora do adormecer...

E o eco triste sobe ás alturas...

Moças! não cantem, que eu vou morrer!

As mães embalam o berço amigo,

Doce esperança de seu viver...

E eu vou sozinha para o jazigo...

Chorai, crianças, que eu vou morrer!

Pássaros tremem no ninho santo

Pedindo a graça do alvorecer...

Enquanto eu parto desfeita em pranto...

Aves, suspirem, que eu vou morrer!

De lá do campo cheio de rosas

Vem um perfume de entontecer...

Meu Deus! que mágoas tão dolorosas...

Flores! Fechai-vos, que eu vou morrer!"

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As Pombas

Raimundo Correia

Vai-se a primeira pomba despertada...

Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas

Das pombas vão-se dos pombais, apenas

Raia sangüinea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada

Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,

Ruflando as asas, sacudindo as penas,

Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam

Os sonhos, um a um, céleres voam,

Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,

Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,

E eles aos corações não voltam mais.

Giovânia Correia
Enviado por Giovânia Correia em 04/01/2015
Reeditado em 04/01/2015
Código do texto: T5090473
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