Nossas prisões!
Estranho como as coisas e as pessoas tendem a nos afligir. E nossa imaginação é tão fértil, sim, porque a dor tem esse poder também de regar os nossos corações, levando nos ao cume de nossas desesperanças, lá de onde lançamos nos num abismo que parece jamais ter fim.
A dor é benção salvadora, a dor restaura, a dor também cura, porém, a vida e tudo lá fora tem a mágica de ferir nos tão profundamente, que a lança atravessa o coração e crava se no mais indizivel de nós.
Temos todos nossas mágoas ( e elas vão nos matar se não aprendermos o perdão), temos todos nossas dores, nossas frustrações advindas de sonhos que sonhamos e não realizamos. Temos todos esse vazio no olhar que não se preenche com luzes e cores artificiais. Temos todos as nossas falhas, os nossos erros, nossas impiedades com os outros e com nós mesmos.
Tudo na vida tem dois lados e nossas escolhas determinam o rumo, mas não devem roubar nos jamais o direito que temos a liberdade, de voltar alguns passos, de buscar outros horizontes, de seguir em frente renovando os sonhos, as idéias e os ideais.
Neste tempo recolhida, experimentei um sentimento terrível, o orgulho. Percebi que ele é um tumulo que nos sepulta em vida. Eu acredito que tudo aquilo que nos tira o direito de sermos livres chama-se cativeiro. O amor não cresce onde não nasce. E são tantos conceitos e passamos uma vida toda nos sentenciando, nos escravizando, nos esquivando da vida como se não estivessemos nela. Nos ausentamos dos outros, chegamos a sufocar nos de nós mesmos, ignoramos, desprezamos até...é mais comodo. Acabamos então por fingir que não dói, que não amamos e ponto e instalando nos dentro de nossas comodas prisões pouco nos importa quem tantas vezes entre lágrimas, nos bate a porta. Nos agarramos tanto a lei dos homens, tornamos nos subalternos de nossos tao iguais, tão falhos e pecadores quanto nós. Despojamos nos de tantos e importantes valores, negamos nos o direito de novos começos toda vez que assim sentimos necessidade, afinal, as vestes que vamos acumulando tornam se pesadas demais, muitas vezes bem mais que a propria cruz e não nos da a medida de nossas ilusões. Ah, é só um peso a mais e já carregamos tantos não é mesmo? O que nos pesa mais um?
Engraçado que as pessoas costumam, como diz um pensador do qual não lembro neste momento o nome... "a viver como se jamais fossem morrer (e completo eu, com seus orgulhos, com suas mesquinharias, cativos de si mesmos, prisioneiros afogados dentro de suas vertentes, de suas fontes impedidas de fluir) e morrer como se jamais tivessem vivido" (e termino eu, dentro de uma solidão racionalizada, sufocando a vida para que ela não flua, sufocando a alma para nao ser julgado, ferindo para não ser ferido, amando e fingindo que nada sente. Sentindo e enganando se que é mais anjo do que se realmente é gente.
Tudo passa pelo crivo do tempo, e que ele seja sempre um vento a favor, ainda que pareça tempestade, ainda que tantas vezes deixe nos a deriva, ainda que distancie nos do porto.