Palavras
Os seres humanos são os únicos em nosso planeta capazes de articularem os sons de forma a aprumá-los e padronizá-los, tranformando-os em palavras, conseguindo assim se estabeler comunicação. Tamanha graça atribuiu às palavras uma importância imensurável, sendo uma das principais causas da suposta evolução humana. Por deter em sua essência tamanho prestígio e exercer indefinível influência na esfera social de todas as comunidades mundiais, as palavras tem o poder de enriquecer o espírito, transbordando-o e iluminando-o com sensações agradáveis que nos trazem bem-estar e felicidade. Contudo, e exercendo poder devastador, as palavras emanadas com mesquinharia e ignorância ficam alojadas na alma e mais cedo ou mais tarde terminam por carbonizá-la, deixando, por muitas vezes, feridas se nunca se cicatrizarão.
Falar é fácil, falar é bom, ainda mais pra quem fala. Entretanto, as vezes quem fala fala sem pensar, fala sem entender o poder das palavras, fala sem sequer imaginar o efeito que isso terá para quem ouve. Pronunciar palavras prejudiciais à outrem é mais fácil ainda, normalmente quem fala não sente o impacto causado por suas palavras, não entende que danos podem causar, exatamente por estarem no papel de quem “fala” e não de quem “ouve”, por isso disparam palavras como flechas envenenadas dotadas de maus pensamentos e desejos negativos, capazes de destruir a dignidade humana e a moral de seus “alvos”. MAS DESTRUIR É FÁCIL!!!
Destruir é fácil, destruir é célere e cômodo, destruir não exige àquela força positiva inundada de sentimentos bons e aconchegantes, capazes de iluminar uma alma desvirtuada e largada em algum lugar ermo na vastidão sombria do mundo das “flechas envenenadas”, destruir não exige amor!! E exatamente por ser mais cômodo e fácil, e principalmente por não gerar ônus algum para quem as profere, palavras devastadoras são usadas de forma comummente e sem a menor cautela. O que é um absurdo.
Em contrapartida, prolatar palavras que enobrecem a alma e trazem conforto e carinho para quem as ouve é difícil, vez que devem ser emanadas na melhor parte do coração de quem às diz, e além de tudo serem dotadas da verdade benéfica capaz de tirar da escuridão uma alma mal-tratada, verdade essa que só se aloja nos corações mais puros e incapazes de lançar a esmo sentimentos negativos intentados em prejudicar outrem, mesmo sendo mais fácil agir desta forma. Corações estes que estariam dispostos à abdicar-se de bem próprio para transferi-lo à terceiros, corações que preferem usar o tilintar das cordas vocais para criar, construir coisas boas, ao invés de destruí-las.
O que mais entristece é saber que as pessoas estão tão abarrotadas de trabalho, tão ocupadas ouvindo e tentando processar palavras negativas ditas em sua própria casa, tão reclusas em um mundo finito por detrás do Insul-Film de seus carros, que preferem lançar palavras ricas em assolo por ser mais cômodo e fácil, e por já estarem cansadas de tanta preocupação. E ainda para majorar a aflição, as pessoas tão cansadas perderam então a vontade de lutarem pelo contrário, perderam a vontade de ouvir e dizer palavras dotadas de sentimentos positivos, perderam a vontade de usar coisas boas para criar coisas boas, perderam o tesão pelo belo e prazeroso, deixaram de querer amar com anelo e fulgor...
Por isso diga, mas se for dizer diga com amor e prazer, diga para incitar, para criar e para crescer, diga para clarear uma alma angustiada, diga para agigantar um espírito minorado pelos intempéries causados por palavras desastrosas, DIGA PARA FAZER BEM! Palavras são banhadas em poder, poder este capaz de exterminar, capaz de fazer aquietar a positividade, por isso, tenha cautela se tiver que falar algo negativo, faça de forma a não prejudicar ninguém, faça de forma a não destruir os alicerces de um coração banhado em felicidade, faça da forma menos agressiva possível.
Para tanto, use as palavras para dizer que ama, para dizer que sente falta, para dizer que necessita e que quer, use-as para elogiar, use-as para elevar, use-as para fazer rir, use-as para iluminar. Mesmo que seja mais custoso, mesmo que exija mais de sua energia, fazer o bem traz o bem, falar coisas boas, fará ouvir coisas boas. Por isso haja dessa forma, se entregando e doando, transbordando amor e positividade, e com certeza as palavras que o tiverem como destinatário serão de bom grado, com o único intento de fazê-lo bem.
Sejamos senhores de nossa língua, para não sermos escravos de nossas palavras...
L. R. Borges
Sine die