AQUELE PALHAÇO DE PAU
A Q U E L E P A L H A Ç O D E P A U
GLÁCIA DAIBERT
Não há ninguém que não adore as crianças
e não lhes dedique carinho enorme.
É que bem queremo-as, nós nos bem quistamos.
Os enganos, as desilusões,
os desesperos e o fracasso
que todos tivemos, ante o futuro
que fôra idealizado
fazem com que a alma infantilize de novo
e se tome de inveja
pelos que apenas engatinham
sobre as misérias do mundo.
Há em cada mulher em cada homem
uma vontade de começar tudo de novo
uma saudade doida da sua meninice...
De muito longe,
cada um carrega uma impressão
que nunca mais se apagará da lembrança.
Recordo-me bem que
eu tinha uma irrestível fascinação por um brinquedo
com que por força, folgastes também:
- o palhaço de pau, que gira nos basbantes.
Quando aquele trapésio singular
pintado de verde e amarelo
vinha para a festa de meus olhos
sofria um gosto estranho.
Nas pontas de baixo,
apertava gostosamente,
e nas de cima, no cordel trançado,
o palhaço desconjuntado
desarticulava gestos imprevistos
cenas grotescas, atitudes elegantes e bizarras.
Então eu imaginava (vaidade louca)
que o universo seria para mim aquele boneco
Com a ponta dos dedos o manejaria,
dar-lhe-ia as posições que entendesse
pô-lo-ia sempre ao sabor
do meu desejo e da minha ambição
Ah!!! quem dera
ter ficado sempre pequenina
movendo a vida, aquele palhaço de pau
nas mãos macias
que ainda não tinham os calos do sofrimento...
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