Meu indulto de Natal
 
 
     O indulto, por definição, é um ato de clemência que implica na revogação das penas por erros cometidos. O verbete, nos dicionários, também é apontado como sinônimo de perdão, contudo, sob meu ponto de vista, isso não corresponde à verdade.

     O perdão, como eu aprendi a duras penas, equivale ao esquecimento dos erros cometidos. Afinal, quando a lembrança de atitudes alheias que nos tenham prejudicado é recorrente, estamos brindando os faltosos com um lugar de honra em nossa memória e, certamente, isso não é muito justo. Quando se consegue, de fato, esquecer o faltoso responsável por algum dano que tenhamos sofrido, não só liberamos a quem perdoamos como, ainda, retomamos a posse plena de nossa consciência para que ela se purifique só com nichos de memórias agradáveis.

     Note-se que não estou sugerindo que se possa, de fato, eliminar totalmente a lembrança de pessoas que povoaram nosso passado. É inevitável que, vez por outra, elas tendam a comparecer aqui e acolá em nossas reminiscências pessoais. Contudo, quando se perdoa alguém que nos tenha magoado de alguma forma, lhe é tirado um papel de destaque no roteiro de nosso destino para que pontue, apenas, como mero figurante – e disso jamais deveria ter passado.


     O indulto, por outro lado – e esse é apenas meu mero ponto de vista – representa o esquecimento do erro e do dano e, assim, já não se trata mais especificamente do protagonista que os tenha causado. Nesse caso, além de afastar os tais figurantes para um extremo grau de insignificância, ainda, saneia-se o estado de espírito para que espanquemos as mágoas e demais conseqüências desagradáveis para recônditos insondáveis de nossa memória.


     Estamos em época de Natal e é o momento de se aproveitar o espírito cristão que em muitos, como eu, ainda toca de alguma forma o coração. Eu aproveito a oportunidade para, num modesto ato de clemência, conceder o indulto aos egoístas, aos traidores, aos maledicentes, aos aproveitadores, aos desonestos, enfim, aos espíritos e mentes que, em algum momento, pontuaram com atos de pequenez em geral, meus tortuosos trajetos pela vida em tempos mais recentes – até porque, aqueles de um passado mais remoto já foram indultados há muito tempo.


     Esse, sem dúvida, é um grande presente de Natal que dou a mim mesmo!


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Advogado militante em São Paulo

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