Fênix
Um galo canta, enquanto o tecido da manhã é rebordado de luz!
As coisas se ajeitam, tal como ordinariamente se dispõem, no principiar do dia.
Um dia prenuncioso como foram outros tantos e serão outros muitos, até o findo dos tempos!, se apresenta como sendo habituoso e birrento: é de muita labuta e de muita cesura e de muita docilidade – quando quer ser – e de muita alacridade – quando tem vontade de dar alívio ao desmedrar e isso não é quase sempre.
As cicatrizes são acumulativas, a cada incisão que o tempo faz e insere seu tóxico envelhecer.
Mas o fênix dos dias, o rejuvenescer constante do sol, o passar lerdoso do existir, não é unicamente areia na ampulheta e o deslocar-se dos ponteiros do relógio. Isso é pura enganação, para fazer-se presente no viver dos galos que cantam ao nascer das manhãs e daqueles que aos galos ouvem e labutam com as cesuras do tempo em suas vidas cotidianas: lancetadas que o impiedoso tempo dá aos corpos vivos!
O dia chega ao findo e os viventes não se dão conta de que perderam um pedacinho seu, nesse harmonioso dia que foi tecido e rebordado de padeceres e prenúncios de um dia outro..., e outro..., e outro..., e outro..., e assim sendo, ad aeternum, amiudadamente um novo outro dia!
..., um galo canta e outro galo arremeda e o coro da passarinhada contraponteia, consonantes com a harmonização divinal!