Inácio, O pequeno justo
Hoje Inácio me surpreendeu com uma frase: "Papai, isso não é justo!" Certo, em nosso mundo corrido, colorido e de notícias na velocidade da luz, é quase certo estarmos distraídos com alguma coisa, justamente como eu estava, e não dá ouvidos a tudo o que nossos filhos falam. O mais comum é fingir que ouvimos, e balançarmos a cabeça em sinal de concordãncia. Mas essa frase do Inácio de três anos e cinco meses não pude deixar batido.
Nas costas carrego seis semetres de direito que tive que abandonar e, logo no primeiro semestre, na cadeira de Filosofia do Direito, Introdução ao Estudo do Direito, Sociologia do Direito, se temos uma certeza é de uma pergunta feita por nossos professores: O que é justiça. E qual a resposta? É um retalho, uma construção que vem rasgando os séculos, mas uma eu nunca esqueci: "Justiça é dar cada um o que é seu." Esse conceito é de uma grandeza que chega a estremecer. Sem consultar à grande rede, acho que essa frase é de Santo Agostinho. Pois bem, Inácio, hoje, invocou a justiça.
Ele e Vicente e nós, sempre que chegam da escola assistimos a algum filme em família. Nada de alta cultura, é filme comum mesmo, como Aladin ou Monstro SA da Disney ou algum vídeo infantil, geralmente cantado, sobre a nossa fé. Quando não existe concenso, eu coloco na Neteflix e vamos assistir algum documentário (quando há discórdia, então a vez dos pais escolherem o que assistirmos e o documentário geralmente é sobre animais, que eles gostam, assim, de uma forma ou outra eles também ganham) E funciona assim: cada um tem o direito de escolher um filme. O primeiro que escolher o filme de hoje, amanhã será o segundo. E isso já está bem organizado. Nenhum dos dois questiona e já sabem qual a sua respectiva ordem, inclusive Inácio sabe quando é a sua vez ou a do irmão.
Hoje foi o dia de Vicente, e ele escolheu o filme Uma noite no Museu. Como ele é mais velho, presta mais atenção ao filme, enquanto isso, Inácio dá uns cochilos. Mas basta o filme acabar e Vicente tentando aproveita o momento de sonolência do irmão para emplacar mais um filme de seu preferência, que Inácio acorda e percebe o que está acontecendo. Nesse momento ele se manifesta: "Papai, isso não é justo!" Como já disse, não teve como eu mr admirar.
Aproveitei a deixa e expliquei sobre o que é justo. Se Vicente teve o direito de assistir algo que ele queria, então era justo que Inácio também tivesse o mesmo direito, pois essa era a regra. Estendi o tema para as tarefas da escola e para a obediência ao papai e a mamãe. Claro que eles precisaram de muitas outras conversas sobre justiça e o que é justo, mas o ponta pé inicla foi dado e nem foi eu ou a mãe quem provocamos.