Rota da Amizade SC (Relato de Viagem)

Fizemos um passeio muito tri neste feriadão: a Rota da Amizade, pelos municipios catarinenses de Videira, Arroio Trinta, Treze Tilias e Fraiburgo. Encontramos este roteirinho e logo contratamos, sem grandes expectativas, apenas para variar um pouco a paisagem no fim de semana prolongado.

Saímos de Porto Alegre à noite, e logo em Caxias embarcamos na "nave", o super hiper ônibus premium double deck. Pernoitamos no ônibus e amanhecemos em Videira, sendo recebidos com um café da manhã delicioso no hotel. (Sabe café da manhã de hotel brasileiro, né? Imperdivel!)

Fizemos um city tour a pé pela cidade de Videira, berço da empresa Perdigão/BRF e capital catarinense da uva, do vinho e do espumante. Vimos seu parque linear do rio do Peixe, a ponte pinguela, a feira de agroprodutos e artesanatos, a praça, a antiga estação de trem, o ponto zero da cidade, e diversos monumentos nos espaços públicos desta surpreendente cidade de 55 mil habitantes.

Visitamos a praça da igreja matriz, com seu núcleo cultural, o coreto e o museu histórico de Videira, onde estão expostos diversos utensílios da vitivinicultura. Muito tri! Visitamos, logo ao lado, a igreja, com seus vitrais lindos, e seu altar com uma imagem de nossa senhora da imaculada conceição, e um belo painel de arco íris. Subimos os 90 degraus da torre dos sinos, e tivemos de lá uma bela vista panorâmica da cidade.

Pudemos ver o "lado de cá" do rio, onde havia o povoado de Perdizes, dos imigrantes italianos, e o "lado de lá", onde havia o povoado de Vitória, dos imigrantes alemaes. Hoje em dia, na Praça do Conhecimento, há esculturas monumentais representando esses dois povos, alem dos caboclos e povos originários americanos. Nem a garoazinha, nem o cheiro da indústria alimentícia (cheiro nao de porcos, mas de dinheiro!), nada disso impediu nossa visitação a esta bela cidade.

Uma surpresa foi a existência de um centro de pesquisa e observatório astronômico junto à universidade em Videira. Vimos uma simulação de software especializado para Astronomia, e recebemos umas dicas sobre como e quando visualizar um cometa que se aproxima da Terra neste mês. Assistimos a uma projeção esférica super envolvente sobre a formação e o destino do nosso sol e dos seus planetas. Uma criança da plateia ficou extremamente impressionada com a previsão de que o sol, tão importante para a vida na Terra, algum dia vai morrer e exterminar todos os seres vivos!

Visitamos a cidadezinha bem pequeninha de Arroio Trinta, que tem só 3.500 habitantes. Um ponto alto dos passeios pelas regiões de colonização italiana e alemã é, como todo mundo sabe, sem dúvida, a gastronomia! Almoçamos em uma cantina italiana de uma família que nos acolheu maravilhosamente! Em seguida, fomos conhecer a pequena vinícola da familia, e aprendemos sobre a historia dos seus antepassados imigrantes, e sobre o processo de fabricação dos vinhos, tanto os de mesa, quanto os finos, quanto os espumantes. Teve degustação, é claro! Pudemos experimentar cinco rótulos! Impressionante que uma família com poucas pessoas consiga administrar um negócio desse porte e variedade, e ainda receber a nós turistas com tanto carinho.

Visitamos uma escola estadual surpreendente! Bem limpinha e bem lindinha! Lá, ouvimos sobre o processo de colonização da região, e seu nome, que tem a ver com a quantidade de travessias do arroio necessárias para se cruzar a região. Vimos uma impressionante maquete da cidade, feita com impressão 3D a partir das plantas arquitetônicas dos principais prédios públicos e das grandes empresas. Muito legal! De encher os olhos!

Na escola, fomos surpreendidos pelo incrível e até comovente trabalho de uma professora de Biologia que trabalha com Taxidermia. Sim, é aquela tecnica de conservação da pele dos animais vertebrados, sejam mamíferos, aves, anfíbios, répteis, ou peixes. Tinha até alguns invertebrados ali conservados! Ficamos encantados ao entrar na sala grande do Museu, organizada em dioramas, repleta de animais taxidermizados! Um grande cachorro Sao Bernardo, um imenso avestruz, uma gorducha capivara, um jacaré pantaneiro, um belissimo pavão, várias cobras, piranhas, lontras, coelhinhos, periquitos, diversos pássaros, inúmeras borboletas! Uma variedade de animais que foram se acrescentando ao longo dos vinte anos deste incrivel projeto de trabalho voluntário da professora! Dessa maneira, ela desenvolve a consciência dos estudantes, e dos visitantes, para a importância da preservação de todas as formas de vida dessas variadas espécies. Emocionante!

Visitamos Treze Tílias, a cidade mais austríaca do Brasil! Ela tem origem na única colônia austríaca brasileira, Dreizehnlinden (treze tílias), e hoje tem cerca de 7.500 habitantes. As casas e prédios têm jardins bem cuidados e têm campanários típicos e característicos! Visitamos o museu histórico municipal, onde aprendemos sobre a fundação da colônia austríaca, planejada em detalhes pelo fundador, da família Thaler, inclusive em termos de quais profissões seriam necessárias na colônia, e até questões de religião. Vimos no museu o jeito da construção civil, com materiais disponíveis na época, e sem uso de pregos! Apreciamos diversos móveis, ferramentas e utensílios originais, de uso na colônia, trazidos da Áustria pelos imigrantes. Nos surpreederam as várias soluções engenhosas, como uma caixa de ovos, e uma jarra com aquecimento, alem da expressiva quantidade de livros.

Aprenemos que Treze Tílias é a capital brasileira da escultura em madeira. Pelo menos quinze artistas são mencionados no excelente material turístico do município. Visitamos o ateliê de um escultor trezetiliense da familia do fundador da cidade, e especializado em arte sacra em madeira de cedro. Ficamos impressionados com a expressividade de suas peças, em especial uma Maria mãe, e um São Jorge, com dragão, cavalo, lança e tudo mais, além do trabalho das filhas do artista, também escultoras. Soubemos que os cristos das igrejas de Dom Bosco de Porto Alegre e de Brasília sao obra deste artista. Espetacular!

No parque Lindendorf, nos encantou uma incrível Minicidade de Treze Tílias, toda feita em madeira, segundo a técnica austríaca, com a prefeitura, o museu, os hotéis, as escolas, o pórtico, as ruas, os ônibus de turismo, e até a rede elétrica de iluminação, com uma simulação das horas do dia. Nesse mesmo parque, um almoço com pratos típicos da culinária austríaca nos deliciou! Spätzel, knödle, goulash, salsicha bock, sauerkraut e eisbein, tudo estava muito saboroso! Experimentamos também o chope de vinho, e o chope pilsen dos austríacos. De sobremesa, não poderia deixar de ser apfelstrudel, e com sorvete!

Assistimos ali a um show do grupo de danças folclóricas da região do Tirol! O grupo ja tem uns 30 anos em Treze Tílias, e tem uns 30 bailarinos, a maioria jovens, até criança! Impressionante a energia nas danças: as colheres, os sinos, os bancos e os tapas! O público inclusive participa de alguns números, dançando uma polca ou uma valsa, ou ainda, se envolvendo (ou sendo envolvido) na encenação e nas brincadeiras. Tudo muito alegre e divertido! Depois da comilança, do chope e da dança, conhecemos o parque Lindendorf e sua bela área verde, com lago de carpas, trilha ecológica, lojinha de artesanato, e um inusitado "barrigômetro", uma estrutura interativa de taquaras para o visitante medir a sua protuberância abdominal depois do generoso almoço. Pelo que medimos, parece que ainda sobrou algum espaço, e visitamos uma loja de chocolates. Outra delícia!

Nessa tarde, estava ocorrendo em Treze Tílias a Festa da Primavera, pois era exatamente o dia do equinócio, e por acaso, um dia de calor intenso. Aprendemos que é uma tradição na cidade, há anos, a participação da comunidade em um esforço de erguimento do imenso tronco de eucalipto da Árvore da Primavera, sem nenhuma ajuda de máquinas, apenas "no muque", e com cavaletes, escoras, forquilhas e outras ferramentas de apoio semelhantes às utilizadas pelos primeiros colonos. Enquanto se preparava o processo de erguimento, a comunidade e os turistas se divertiam com música e chope, além de comidinhas de rua. Tivemos a oportunidade de apreciar o artesanato local e a alegria etílica dos moradores e visitantes, vários trajados tipicamente. Muito divertido!

No fim do passeio, visitamos Fraiburgo, de clima frio e seco, a cidade da maçã. Vimos o lago artificial criado durante a colonização inicial daquelas terras, e aprendemos sobre esse periodo. Vimos o castelo de estilo francês da cidade, e conhecemos a historia de amor envolvida na sua construcao. Visitamos um hotel de luxo estilo europeu, que conta com recursos para o conforto diante das temperaturas negativas que envolvem a cidade. Degustamos maçã "in natura", chá de maçã, maçã desidratada, chips de maçã... Depois dessa overdose de maçã, seguimos para um almoço tão intenso quanto os anteriores, por sua variedade, de sabores e cores e aromas, e carnes e sobremesas. Tudo delicioso!

Bem alimentados (talvez até bem demais!), e cheios de novos conhecimentos e novas vivências, além de novos e antigos amigos de viagem, reornamos a bordo da "nave" de volta para casa. Esta Rota da Amizade foi um daqueles roteiros maravilhosos, porque surpreendente e encantador! Curtimos muito!