Como se fala no Nordeste

O nordestino é parecido, mesmo estando distribuído em vários estados. Mas se engana redondamente quem pensar que tudo é baiano. Não é. Nem no sotaque, nem no uso de certas palavras. Eu não conheço todas as nuances do linguajar nordestino. Sou pernambucano e já morei no Ceará (Fortaleza), na Bahia (Salvador e outras cidades) e atualmente moro em Sergipe (Aracaju). Conheço outros estados do nordeste, como Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas. Posso, portanto, dizer que existe diversidade de linguagem, sotaque e costumes. E a diferença pode ser observada até em um mesmo estado. Exemplo: o pessoal de Recife fala diferente do pessoal do interior; os de Salvador também. Não é a mesma coisa no mesmo estado, acentuando a diferença de um estado para outro. Algumas palavras, no entanto, são comuns em todos os estados; mas o sotaque não. Já viram novelas de temas nordestinos, na Globo, artistas tentando falar igual ao povo dessa região? É ridículo! Às vezes engendram um sotaque baiano em um personagem pernambucano. Não tem nada a ver. Quem não conhece, pensa: "que maravilha, é assim mesmo que o nordestino fala". Como sempre, a Globo é um veículo de desinformação. Mas isso não vem ao caso. Vamos ao tema central dessa pequena crônica. Como sou pernambucano e tenho uma longa vivência na Bahia, vou apresentar aqui algumas peculiaridades linguísticas desses dois estados. Começando por Pernambuco. Lá (digo lá, porque agora estou em Sergipe), usa-se a palavra "cabra", que é a fêmea do bode, referindo-se ao homem. Isso mesmo. Mas não é um pejorativo. Pelo contrário, usa-se "cabra" na expressão "cabra macho". Quando ele é bom em alguma coisa, quando é corajoso e valente. "É um cabra macho". Mesmo cabra sendo uma palavra feminina, a fêmea do bode, não tem, nesse caso, uma conotação efeminada ou degradante. Os cangaceiros de Virgulino, o Lampião, eram chamados assim. "Os cabras de Lampião". O pernambucano é também chamado de "cabra da peste", não apenas quando pratica atos de violência, mas quando é muito bom em alguma coisa. "É um cabra da peste". No geral, em Pernambuco, não se usa o verbo "botar", quando querem dizer que a galinha botou um ovo. Usam sempre o verbo "pôr". A galinha pôs um ovo. E se alguém falar: "Ponha isso aí", alguma coisa qualquer, a resposta quase sempre será: "Eu não sou galinha pra pôr". Em Pernambuco quem põe é galinha. Lá não se usa a palavra aipim ou mandioca, referindo-se à que se pode comer. Quando se fala em mandioca, é sempre aquela que é usada apenas para fazer a farinha. Ela não serve pra ser comida cozida. A comestível é macaxeira. Nunca dizem mandioca, ou aipim. Já na Bahia, apesar de ser nordeste, usam a palavra aipim. E é também o baiano de Salvador que tem a capacidade de falar uma frase inteira usando só vogal. Acha isso impossível? Vejamos, vou tentar reproduzir aqui. "Ó o auê aí, ó". Bom, não vou ainda traduzir essa frase. Se alguém sabe ou descobriu, deixe nos comentários. Caso ninguém diga o que significa, eu revelo depois. Por enquanto é só.

Aguardem outras postagens sobre coisas do nordestino.

Isidio
Enviado por Isidio em 19/11/2017
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