Kazola, bauka, kota, ndenge, maka e mbaya: o que são? São empréstimos linguísticos ou calão? (por Caetano de Sousa João Cambambe)

Há certas pessoas que consideram calão alguns termos com pronúncias feias, estranhas ou grosseiras, apoiando-se aos conceitos estabelecidos por algumas gramáticas tradicionais acerca dos registros, registos ou níveis de língua, sobretudo no caso de calão. Mas não é bem verdade, a ver-se pelos empréstimos acima.

O conceito de calão, na minha óptica, deveria ser repensado, pois, actualmente, tendo em conta alguns escritos estampados em certos materiais de língua portuguesa, torna-se bastante complicado adequar tal conceito à realidade e às situações de comunicação. Até poderíamos dizer que se trata de uma "mentira mentirosa", a ver-se pelo que aprendemos nas classes passadas.

Respondendo à questão acima, teríamos:

a)Baúca (grafia aportuguesada), em kimbundu, significa: seco. Ora, no português de Angola, tal vocábulo, às vezes, é empregado com um outro valor semântico, a ver-se, por exemplo, nos seguintes casos:

1.° - Mãe, já não há espaço. Portanto, se for para entrares, terás de sentar na baúca (um lugar desconfortável).

2.° - António, tens muita baúca, fogo (talvez a pele esteja seca e esbranquiçada!

B) Casola, do kimbundu kazola, signfica amor, fofo/a e tantos outros nomes que atribuimos às nossas namoradas, às nossas noivas, esposas e aos nossos namorados, noivos, esposos. Mas, no português de Angola, é empregado com o sentido de "oportunidade, entrada, chance, vaga, "etc.

Exs.: António, onde trabalhas, será que já não há mais uma "casola (vaga)" para mim?

Eu preciso mesmo de uma casola (oportunidade, chance, etc.) para trabalhar.

C) Ndengue, do kimbundu ndenge, significa menor, criança, etc. Já no português de angola, é empregado com quase os mesmos valores semânticos.

Ex.: Ele é meu ndengue (irmão menor, etc.).

D) Kota, do kimbundu kota ou dikota, significa uma "pessoa mais velha/adulta", que pode ser irmão/a, pai mais velho [papa ya dikota], irmão do teu pai [ o mais velho de todos] , mama ya dikota, mãe mais velha [a irmã mais velha da tua mãe], até porque em kimbundu não existe tio, tia, primo, prima, etc.). As irmãs da mãe (que a gente chama de tia) são também nossas mães... No português de Angola, às vezes pode equivaler aos mesmos valores semânticos tal como a uma forma de tratamento (senhor/a).

Ex.:

Kota António, como está (senhor, mais velho)?

O kota está bem ( senhor)?

E) Mbaya, em kimbundu, significa "¹chapada (bofetada) ", bem como em português. Mas, às vezes, é empregado com o valor semântico de ²"ultrapassagem ou de ³aceleração".

- Vou dar-te uma ¹mbaya, Joana!!!

- Motorista, dá uma ²mbaya naquele carro que está à frente de nós.

- ³Mbaya, motorista!

F) Maka, em kimbundu, significa "problema", "questão", etc., parece suceder o mesmo no português falado em Angola.

Ex.: eu tenho muitas makas na vida (problemas). (In Puto Lilas, eu tenho babulo).

Não se trata, de facto, de calão algum; todavia, trata-se de empréstimos lexicais que certos falantes do português de Angola têm feito às línguas bantu de Angola.

CaetanoCambambe
Enviado por CaetanoCambambe em 30/10/2016
Código do texto: T5807366
Classificação de conteúdo: seguro