Tolerância Prosódica (por Caetano de Sousa João Cambambe)

Nós gostamos da estilística. Gostamos, sobretudo, das ‘’espragatas mentais’’ que as pessoas fazem a fim de construir(em) frases estilisticamente ricas. Mas só não gostamos quando as pessoas usam a metonímia, digamos, para julgar a parte pelo todo, tal como alguns gramáticos confundem ‘’língua’’ e ‘’gramática’’.

Ora, é um acto meramente preconceituoso julgar e tirar falsas ilações por um simples falar, por um simples andar, por um simples acto, etc. É como diz o velho ditado:

‘’Não se deve julgar o livro pela capa‘’.

Ultimamente, embora se tenta noção do ditado acima, ainda se teme em julgar alguém por possuir um falar distinto do habitual. Por essa razão, chega-se até a pôr em causa a personalidade da tal pessoa, o que do ponto de vista da Ética, ciência filosófica que se refere aos estudos das acções humanas, não é de se salutar.

A fala não é o ‘’todo’’, pois é simplesmente uma parte do ‘’todo’’. Há que se reconhecer antes o ‘’todo’’ a fim de se julgar a parte, embora isso não lhe dê o direito de julgar o ‘’todo‘’. Apesar de se dizer que a fala é o reflexo do nosso ‘’ego’’, ainda pensamos que não é por aí que se deve caminhar. É imprescindível que se conheça, primeiramente, o ser, o estar e o fazer dessa pessoa, para que possamos emitir qualquer parecer, mas que não é humano e ético julgar ou discriminar o nosso próximo por ser meio diferente, visto que vivemos num país multicultural e plurilingue, não é! Não se sabe o que se passa na psique da pessoa, da sua vivência, que patologia da linguagem carrega, não se sabe. Então, convém mesmo não julgar as pessoas! Ainda assim, caso descubra alguma coisa a respeito, não, há razão por que vermos uma fala diferente como sinónimo de ‘’ausência de uma cultura linguística’’, ‘’ausência de boca’’, ‘’falta de escolaridade’’, ‘’falta de gramática’’, e por aí fora.

Em vez de julgar, ajuda-o a romper com tal barreira, visto que somos todos revestidos de ’’imperfeições (de todo tipo)’’.

As pessoas já são julgadas pelo que comem, pelo zero que obtêm nos testes, pela ‘’t-shirt’’ rasgada, pela calça sem cor, pela blusa com nódoa que usam, pela casa de chapa que têm, pelo mobiliário velho que têm, pela religião que professam, pela música que adoram, pela raça que têm, pelo grau académico que possuem, pelo mísero salário que recebem, pela condição cultural, linguística, etc. Então, não seja mais um juiz!

CaetanoCambambe
Enviado por CaetanoCambambe em 28/10/2016
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