AQUELES TEMPOS

miro os bastos estendido

sobre os varais do galpão

bate no peito a lembrança

do meu tempo de peão

as medonhas madrugadas

da minha encilha prateada

companheira das tropeadas

pelos pagos do rincão

busco o tempo as lonjuras

as manhãs de geadas e frio

me desenhando na alma

a gado cruzando o rio

a velha capa surrada

a chuva e poeira de estrada

uma cama de pelego

pro rigor das madrugadas

a vivencia de índio pobre

chulindo os pilas que ganha

o bolicho beira de estrada

pra um gole de canha

pra espantar as magoas

de amor mal sucedido

daquela flor de percanta

que fez o coração sofrido

vem la do fundo das eras

que a muito tempo se foi

do arado deitando a terra

e a velha carreta de boi

que formaram gerações

do ventre ao berço do arreio

na cantilena da espora

e da barbela do freio

como se no rasto da gadaria

num divagar eu me ponho

a repontar gado imaginário

na tropilha do meus sonhos

evoco a voz rude do pampa

ecoando pela distancia

igual o relincho febril do flete

saudoso ao voltar a querencia

ZECA DIVINO
Enviado por ZECA DIVINO em 20/05/2023
Reeditado em 26/12/2023
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