AQUELES TEMPOS
miro os bastos estendido
sobre os varais do galpão
bate no peito a lembrança
do meu tempo de peão
as medonhas madrugadas
da minha encilha prateada
companheira das tropeadas
pelos pagos do rincão
busco o tempo as lonjuras
as manhãs de geadas e frio
me desenhando na alma
a gado cruzando o rio
a velha capa surrada
a chuva e poeira de estrada
uma cama de pelego
pro rigor das madrugadas
a vivencia de índio pobre
chulindo os pilas que ganha
o bolicho beira de estrada
pra um gole de canha
pra espantar as magoas
de amor mal sucedido
daquela flor de percanta
que fez o coração sofrido
vem la do fundo das eras
que a muito tempo se foi
do arado deitando a terra
e a velha carreta de boi
que formaram gerações
do ventre ao berço do arreio
na cantilena da espora
e da barbela do freio
como se no rasto da gadaria
num divagar eu me ponho
a repontar gado imaginário
na tropilha do meus sonhos
evoco a voz rude do pampa
ecoando pela distancia
igual o relincho febril do flete
saudoso ao voltar a querencia