Futebol da Bicharada

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Composição de Raul Torres

Lá no arraiá das coruja formaro dois cumbinado,

O time do quebra-dedo, e o time do pé-rapado.

A bicharada reuniu, formaro logo seu quadro,

Nóis fumo vê esse jogo, por sê um jogo faladu.

A bicharada pediu pro jogo sê irradiadu,

Na estação du lugá, PRJ-Bichadu,

O "ispriqui" era o jumento, rapaizinho apreparadu,

As quinze hora da tarde o jogo foi cumeçado.

O time do quebra-dedo tinha fama de campeão,

Sapo jogava no gol, béqui de espera o leão,

Cavalo o béqui de avanço, o arco esquerdo preá,

Veado de center-arco, arco direito o gambá.

A linha tava um perigo, na meia jogava o rato,

No centro jogava o tigre, na otra meia o macaco,

Na esquerda jogava o bode, direita jogava o gato,

E pra atuá di juiz, foi convidado o lagarto.

(Boa tarde senhoras e senhores. Ai que bicharada gorda, barbaridade...)

O tigre deu a saída, coelho foi pra tirá,

O tigre passô pru bode, mais quando ele foi chutá,

Puxaro a barba do bode, o bode foi recramá,

Juiz falô que num viu, cachorro já quis brigá.

A cabra muié do bode, xingô o juiz de ladrão,

Torcida do quebra-dedo fizéro recramação,

A capivara e a cotia chegaro a xingá o leão,

Preguiça dava risada, de vê o sapo de carção.

Largato que era o juiz, na hora dele apitá,

Tinha engulido o apito, num pôde o jogo pará,

A torcida entrô no campo, de pau, de faca e punhá,

O pau cumeu direitinho, mataro trêis no lugá.

O bode ficô ferido, mataro o béqui leão,

Rasgaro a saia da cobra, cavalo quebrô a mão,

O sapo saiu correndo, jogou-se no riberão,

Por que na hora da briga ele ficô sem carção.

O jogo num terminô, pur isso ficô empatado,

Agora nóis vai falá, do center-arco veado.

Nervoso ele dizia, entre suspiros e ais:

Ai meu Deus do céu qui jogo bruto, meu Deus, que estupidez. Assim num jogo, num jogo, num jogo mais...

Raul Torre
Enviado por Paulo Miranda em 02/01/2021
Reeditado em 02/01/2021
Código do texto: T7150413
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