Garoto da fábrica

Ei, garoto triste,

eles não se importam com você.

Não querem saber nem o teu nome.

Persiste!

Luta contra essa fome.

Ei, garoto menor que um dólar,

todo dia tá na fábrica.

Não deixe que te chutem feito bola.

Ei, garoto sem caderno,

quero te ver na escola.

Quem sabe um dia te veja de terno.

Ei, menino feio,

teus pés não conhecem um tênis de marca.

Sei que o teu bolso tá liso.

Ei, menino fantasia,

quem é que te dá um bom dia?

Ei, menino ferido de morte;

sei que tá fugindo dela...

A vitrine é apenas a ilusão dentro de um shopping.

E o que você veste diz muito da tua sorte.

Ei, menino que calça o mesmo calçado.

Acredite, o tédio nunca foi bom remédio.

Ei, garoto do turno dobrado,

hoje eu sei o quanto você anda cansado.

Ei, menino que veio do Nordeste,

espero que seja forte.

Mas, tem hora que até duvido?

Ei, menino pobre!

Não lhe vestiram uma pátria.

Tudo que te cobre é um combo apertado.

É o que você chama de casa.

Ei, menino sem asas,

perdeu teus sonhos na ilusão de uma metrópole.

Não se entregue aos seus medos.

Ei, menino do coro surrado,

tá na hora de escrever novo enredo.

Ei, menino sem cobre,

quantos calos você já tem nas mãos?

Sei que não dá mole,

siga firme os teus passos...

Você ainda tem muito chão;

espero que sim.

Ei, menino do salário de miséria,

espero que não caia, senão eles te comem.

Nas ruas, seja um artista.

Nas cordadas, um perfeito equilibrista.

Você ainda tem bom coração.

Ei, menino invisível,

todos os dias sai bem cedo pra guerra.

Não amacie, garoto!

Não se apague.

Pois, a cada dia terá um leão.

Espero não te ver morto.

Ei, menino do corpo suado,

não quero te ver mais por aqui.

Por isso, persiste...

Quem sabe um dia você seja um homem.

Autor: Francisco de Assis Dorneles

ChicosBandRabiscando
Enviado por ChicosBandRabiscando em 21/10/2019
Reeditado em 21/10/2019
Código do texto: T6775044
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