O canto da desolação
Deus, aonde me acho?
Quero encontrar a sua sinfonia.
Fica faltando essa melodia.
Por mais que a gente tente,
a vida não se movimenta.
Desde cedo recebi o recado.
Filho,
a riqueza só corre pro lado de lá.
E caso você venha a tentar,
vão te afogar.
Vida de pobre é história sem sorte.
Pra você ver, nem o meu time venceu.
Tão pouco, o meu dinheiro rendeu.
Tenho apenas um monte de contas.
E lá se foi mais um mês de trabalho...
Parece até que foram cem dias.
Diga meu Deus,
o que aconteceu?
Porque só me resta esta agonia.
E eu vou sonhando com a loteria.
Nos dias...
Nos dias...
Porque só me resta esta agonia.
E eu vou sonhando com a loteira.
Nos dias...
Nos dias...
Vejam então o que é a tal de sorte.
Ela nunca gostou de um pobre.
Não passa de uma esnobe.
Este é o meu caso de morte.
Por que sei o qual é duro dizer,
mas a sorte....
A sorte só nasce no sangue de um nobre.
Vida vazia.
Vida sem sorte.
Rapaz, se aquete,
aceite a tua cina,
Mostre aqui o teu braço.
É a hora da vacina.
Acredite na meritocracia.
Filho de pobre nasceu pra ser gado.
Mas nada disso eu quero,
cansei de ser marcado.
A verdade dói, me assassina!
Vida espremida,
tá me faltando espaço.
E eu não acho a saída.
Quanto mais eu trabalho,
mas perco vida.
Cansaço,
quero fugir desse laço!
Porque só me resta esta agonia.
E eu vou sonhando com a loteria.
Nos dias...
Nos dias...
Porque só me resta esta agonia.
E eu vou sonhando com a loteira.
Nos dias...
Nos dias...
Já não tenho atitude,
Lá se foi a minha juventude...
Ficam lembranças do meu passado...
Mamãe sempre me dizia:
Filho, estude.
Mas, como!
Esta falta de sorte só me desilude.
Mãe, hoje tempo continua ruim.
Nem mais acredito que tudo isso mude.
É calos nas mãos.
É desolação.
Pois, dinheiro chama dinheiro.
E por mais que a gente tente lutar,
certos destinos não deixam o lugar.
Fica no ringue o sangue de um boxeador.
Porque o perfume de um pobre é o seu suor.
Mas, para eles o nosso cheiro é tão fedido.
Perfume bom é o aroma de um rico.
Deus,
e como fazer com esta a minha dor?
Porque só me resta esta agonia.
E eu vou sonhando com a loteria.
Nos dias...
Nos dias...
Porque só me resta esta agonia.
E eu vou sonhando com a loteira.
Nos dias...
Nos dias...
Autor:
Francisco de Assis Dorneles