Aquarela zodiacal
Estive três dias sobre o eclipse,
três noites me escondi de você.
Setenta e duas horas vivendo nas
sombras.
Eu não quis encarar os teus olhos.
Por três dias estive em sono.
O teu retrato, o meu outono.
Uma linda imperfeição.
Viajei pra dentro de mim.
Movi os pinceis, então.
Das cores que estavam em cinza.
Pincelei lágrimas em aquarela,
eu não esqueci.
No papel o teu rosto tracei.
Juro por Deus,
ontem eu estava triste.
Lembrei de você,
traços lindos rabisquei.
Eu jurei,
você estava bela.
Refiz toda a paisagem,
pedaços de ti em miragem.
Das mãos de um Vermeer,
teus olhos, tua boca,
corpo e braços.
Assinei o que não se escreve.
O cinza era o belo,
eu descolori você.
Por três dias,
te vi dentro de mim.
Três dias de céu e inferno,
me vi dentro de ti.
Três dias,
eu não conseguia sorrir.
Cortei as assas do meu dragão,
me apaguei em sombras.
Três dias de solidão,
passei a água e pão.
Eu salivei você.
Conjurei-me no eclipse,
sim, eu estava tão triste.
Foi por você que jurei.
Eu não queria mais te ver.
Vi o cravo renascer do pântano,
sonhei com os zodíacos.
Dia lindo! Manhã triste.
Acordei em espanto.
Conspirei contra os astros,
te recriei no meu quadro.
Quem sabe um dia...
Um dia talvez volte a te ver.
Autor:
Francisco de Assis Dorneles