Dona Conceicao

Meu livro de poesia é de cabeceira

que dobra e se desdobra pra ver comoção

eu já durmo na rua dos poetas mortos

que encontram suas metáforas debaixo do chão

eu vivo revirando o lixo da literatura

quebrando escrituras de norma cristalizada

de regras descumpridas por gente em metamorfose

que sabe qual versão da história deve ser contada

minha alma desafinou

meu violão desvirtuou

mas se ainda consigo cantar

é porque não esvaziou

Minha alma desafinou

Meu violão desvirtuou

Sei que foi preciso penar

Pra encantar

Quem não conhece essa dor

Nó preso na garganta não me deixou chorar

com gente convencida de que é normal

e mesmo que sigamos com os olhos d’água

nós que decidimos quem é imortal

Segue em pé quem tem boa história pra contar

Com tanta folha em branco ocupando essa cadeira

agradeço e digo à Dona Conceição

Que sua poesia tá em minha cabeceira

Minha alma desafinou

Meu violão desvirtuou

Se ainda consigo cantar

É porque não esvaziou

Minha alma desafinou

Desafiou meu coração

E agora enquanto um olha chora

O outro enxerga solução

- Samantha Jones