"Trem da Discórdia"

Trem da Discórdia

O galo nem cantou,

Mas eu já estou de pé,

Com o pé na condução:

O relógio não pára

O trem dispara

Com fé no Afeganistão.

E quanto mais eu corro

Mais eu morro

Mais eu corro

Mais eu morro

Mais...

No trem, eu sou mais um,

Amaldiçoado, suado,

Sonolento babão:

Na mão : coragem,

Um dedo na engrenagem,

Com sangue e com sabão.

E quanto menos braço

Mais eu faço

Mais eu faço

Mais eu faço

Mais...

No corpo, o afeto ,

Da graxa e dos insetos,

Das traças e do vagão.

E uma dama fria

Na noite vazia

Aquece meu coração.

E quanto mais eu me dano

Mais eu amo

Mais eu amo

Mais eu amo

Mais...

Caminho à esmo

Procurando por mim mesmo

Nos bares, na escuridão

O copo treme

O corpo geme

Com fé e sem direção.

E quanto mais eu me estrago

Mais eu trago

Mais eu trago

Mais eu trago

Mais...

Invento uma cantoria

Lento levo para o dia

Um alento bom

Me crio no desatino

Canto e desafino

Com fé e fora do tom.

Quanto maior o pranto

Mais eu canto

Mais eu canto

Mais eu canto

Mais...

Volto abatido

Com o peito ferido

De inútil paixão

A noite morre

E eu de porre

De pé e sem feijão

E quanto mais eu espero

Mais eu quero

Mais eu quero

Mais eu quero

Até...