"Forasteiro"
Estrangeiro de tudo que levas
Do bilhete deixado no trem
Ao endereço da tua sacola
Da mulher que chamou-te meu bem
Na viola amar o que levas
E o que levas levar-te também
Esta vida que vai na conversa
E na conversa deixar de onde vem
II
Forasteiro que mora sem terras
Que de sonhos dorme sem eiras
Das estradas de ventos nas velas
Dos teus pés que dobram bandeiras
Bandoleiro sobre o tempo que passa
Ninguém sabe o que passa contigo
Tempo anda e prega suas peças
Nem que impeças, o tempo é antigo
III
Presidente de um céu abstrato
Que na vida forma uma escola
Sem domar bem o seu guardanapo
Enxugar o valor do que chora
Sois poeta na noite que é ladra
E a palavra que miras é a certa
Lá de um palco ou em rua deserta
Tua mãe é tua guitarra
IV
Na viola amar o que levas
E o que levas levar-te também
Esta vida que vai na conversa
E na conversa deixar de onde vem
Navegante que leva nos olhos
Qual sua ilha Cabral a caminho
A ressaca de amar quando acerta
O cansaço habitado no ninho
Presidente de um céu abstrato...