CAMINHANTE VIAGEIRO
Passa o meu passo nessa estrada torta, passam dias, passam noites, passo sem te encontrar.
Passo o meu prazo preso nas cadeias, passo preso é peso morto, não tem onde se enterrar.
Passa o meu passo perdido na praça, passa o resto, passa a caça, passo para não chorar.
Passo sonhando, passando sem graça, no pânico parvo desse maldito penar.
Faço o meu rastro preso nessa estrada, faço pouco, faço caso, passo sem me lamentar.
Faço o meu prato apresso a lua cheia, é estrada reta, é corpo torto, não como se aprumar.
Canso o meu passo, tomo uma cachaça, passa o verso, passa a massa, passo só para te buscar.
Passo morrendo na paz que devassa, atônito, escravo do não dito, não falar.
E no meu passo, perdido, calado, vai passando o sol deixado, vai passando o caminhar.
E no meu passo parado e sofrido, passa o outro alarido no meio do meu cantar.
E no meu campo canto tanto quanto morto, canto vida, canto torto, canto sem me encontrar.
Canto perdido nessa estrada torta, passa o dia, passa a noite, não passará.