TROTTOIR
(Letra premiada em agosto/2009, como poesia)
Maria da Silva, ninguém a conhece,
nem bem amanhece sai pra trabalhar.
Pega o trem lotado, sem tomar café
mas não perde a fé de que vai ser feliz.
Se foi meretriz, tornou-se mulher;
foi uma qualquer, hoje está empregada
com décimo terceiro e carteira assinada,
mas na sua estrada é muito infeliz.
Ao sair da rua tentou ser alguém,
tornou-se ninguém, é refém do fracasso.
A pobre Maria pensou que um dia,
não fosse utopia, pudesse vencer.
Trabalha onze horas, perdeu seu espaço,
segue no compasso de um calendário
e às vezes afunda no imaginário
porque seu salário mal dá pra comer.
Regressa cansada, já é madrugada
e a filha acordada lhe abraça a chorar.
No leito da fome o filho pequeno
repousa sereno, solto ao Deus dará.
Escrava da vida, deixou de sonhar,
cansou de tentar, não foi culpa sua,
nasceu pra seguir o destino da lua,
vai voltar pra rua quando anoitecer