EXCLUSÃO
EXCLUSÃO
(Em)
Naquele casebre pobre da caatinga do sertão
Mora gente muito nobre, a família de João
Esquecida da saúde, longe da educação
Sua praia é o açude de águas turvas, cor de chão
Se lá falta quase tudo, se é pouco o feijão
Sobra amor e esperança no fundo do coração
Um velho rádio de pilha que não para de chiar
É tudo que a família dispõe para se informar
Das notícias da cidade onde não querem morar
Por que a felicidade reside noutro lugar
Onde há luz de candeeiro, onde há rios pra nadar
Onde a força do dinheiro perde para o verbo amar
João cultiva o seu roçado, de onde tira o que comer
Não tem medo do pesado, nem reclama de sofrer
Não precisa de mistura, no simples acha o prazer
Seu feijão com rapadura são bastantes pra viver
Pede a Deus em oração, pra sempre lhe proteger
Quer ficar no seu sertão até a morte lhe vencer
A sua esposa Zefinha faz de tudo pra ajudar
Costura, cria galinha, vende bolo de fubá
Planta horta, lava roupa, colhe frutos no pomar
Tardezinha faz a sopa que vai servir no jantar
Sob a luz da lamparina, à noite, antes de deitar
Agradece à mão divina por tanto que Deus lhes dá
A menina Mariquinha é a princesa do sertão
Tá ficando uma mocinha, já vai chamando atenção
Seu olhar desconfiado esconde sua emoção
Sonha que um príncipe encantado vem pedir a sua mão
Isso faz sofrer Zefinha, tira o sono de João
Não querem ver Mariquinha nas garras da ilusão
Rostos magros, bem marcados, olhos vivos de espanto
Em casa um altar montado como devoção ao santo
Um tamborete na sala, um pote no outro canto
Um caixão serve de mala, uma esteira de manto
A riqueza é tolice, o sorriso é seu encanto
Nem as marcas da velhice fazem derramar seu pranto