EXCLUSÃO

EXCLUSÃO

(Em)

Naquele casebre pobre da caatinga do sertão

Mora gente muito nobre, a família de João

Esquecida da saúde, longe da educação

Sua praia é o açude de águas turvas, cor de chão

Se lá falta quase tudo, se é pouco o feijão

Sobra amor e esperança no fundo do coração

Um velho rádio de pilha que não para de chiar

É tudo que a família dispõe para se informar

Das notícias da cidade onde não querem morar

Por que a felicidade reside noutro lugar

Onde há luz de candeeiro, onde há rios pra nadar

Onde a força do dinheiro perde para o verbo amar

João cultiva o seu roçado, de onde tira o que comer

Não tem medo do pesado, nem reclama de sofrer

Não precisa de mistura, no simples acha o prazer

Seu feijão com rapadura são bastantes pra viver

Pede a Deus em oração, pra sempre lhe proteger

Quer ficar no seu sertão até a morte lhe vencer

A sua esposa Zefinha faz de tudo pra ajudar

Costura, cria galinha, vende bolo de fubá

Planta horta, lava roupa, colhe frutos no pomar

Tardezinha faz a sopa que vai servir no jantar

Sob a luz da lamparina, à noite, antes de deitar

Agradece à mão divina por tanto que Deus lhes dá

A menina Mariquinha é a princesa do sertão

Tá ficando uma mocinha, já vai chamando atenção

Seu olhar desconfiado esconde sua emoção

Sonha que um príncipe encantado vem pedir a sua mão

Isso faz sofrer Zefinha, tira o sono de João

Não querem ver Mariquinha nas garras da ilusão

Rostos magros, bem marcados, olhos vivos de espanto

Em casa um altar montado como devoção ao santo

Um tamborete na sala, um pote no outro canto

Um caixão serve de mala, uma esteira de manto

A riqueza é tolice, o sorriso é seu encanto

Nem as marcas da velhice fazem derramar seu pranto

Heliodoro Morais
Enviado por Heliodoro Morais em 14/07/2009
Código do texto: T1699202