FAVELA
Alvenaria de bloco
Fogo vermelho no chão
Embaixo do dia quente
Das rajadas, trovão
A felicidade da gente
São os nossos porões
Esperem que o dia aumente
As nossas doações
De alma, de calma, de abstinência
De atenções, de trabalho, de obediência
Quer que eu diga pra você
Que aqui não faz sol
Que aqui não tem alegria
Que aqui não tem arrebol
Que não tem crianças na rua
Que voltam pra suas casas
Enlamaçadas, felizes,
Há prostitutas, atrizes
Esse lugar é vivo demais
E aqui mesmo que morro
Que mato dos bichos dos animais
É onde eu peço socorro
E a intimidade se faz
Emboço onera o bolso
Comida, gente, bate e sustenta a laje
Externa muito pouco
É mais curta a bobagem
Sorrio e penso que traio
E trato melhor meu amor
Como ser feliz é pecado
E o cuidado da flor
Que ninguém me saque apaixonado
Que ninguém me saqueie o tostão
Como do chicote que me rasga
Pago o nosso fogão