O Olhar Cético de Platão
O OLHAR CÉTICO DE PLATÃO
(ALTINO MANOEL)
Seu olhar incandescente abrasa minha alma,
Dá o exemplo pros dias que virão,
Salientando acima de tudo nossas palavras mordazes,
Que machucam sem piedade, sem complacência.
Aves noturnas guiem meu grito na escuridão,
Aves soturnas protejam minha dor da solidão.
Ao vivo eu vi ser extirpada a esperança daquela criança,
Que jazia, já sem esperança sob os olhares piedosos,
Mas sem escrúpulos dos senhores de bem,
Que vivem á mercê de suas maldades evidentes.
Antes que as palavras de Platão ecoem pelo corredor,
Vamos despir de todo pudor as vontades de Baco,
E derrubar de vez os portões do castelo onde mora Sophia.
A aranha anda por sob as teias e o largato rasteja pelo limo.
Somos pessoas irracionais, raciocinando sobre as mentiras,
Que os vermes disfarçados de seres humanos,
Nos dizem, nos fazem acreditar.
Soberbo é o urro da fera que vaga por entre nossos medos,
Procurando o que nos resta de dignidade,
Para poder comer no jantar.
Sem me ver, sem me sentir,
Esperei que todos sumissem,
Para eu poder destilar meu veneno,
E como uma serpente me arrastei até seus pés,
E depois ajoelhado e olhando para o norte,
Eu simplesmente deixei que os olhares se cruzassem,
E enfim, que o veneno se misturasse com meu sangue,
E quase como um golpe indolor, percorresse minhas veias,
E como um tiro de misericórdia me acertasse o coração,
Deixando assim tudo pela metade.