Capítulo 41 – Porque em um céu cheio de estrelas, eu acho que vejo você
Fui obrigado a escrever tudo o que me acontecia num diário, é mole? Pois é, Lucas, que agora é meu amigo, disse que uma boa forma de trabalhar a memória é escrevendo, mesmo eu dizendo que estou ótimo e que me lembro de absolutamente tudo, inclusive que ele e Lana tiveram um romance. Mas ok, superei isso depois que ele ajudou a me livrar da Gabriela.
Não faz tanto tempo assim, mas minha vida mudou bastante desde que minha memória voltou. Lana e eu passamos a morar juntos. Ela vendeu seu apartamento para minha tia e se instalou no meu, assim ficávamos mais perto de Mabel os pais dela. Além disso, Lana passou a frequentar a terapia, o que tem a ajudado a enfrentar melhor suas emoções. Os resultados vieram bem rápido. Estamos unidos e mais fortalecidos. Ela me contou de um relacionamento que teve depois que nos afastamos na adolescência. A relação foi um tanto quanto abusiva, o que resultou em traumas que ela admitiu ter transferido nas suas outras relações. Lana chorou muito enquanto contava isso, mas pude notar que foi importante para ela se abrir. É incrível ver o quanto se libertar de certas dores é essencial para seguirmos. No caso de Lana, isso foi tão renovador que um dia estávamos na sala de casa, bem tranquilos e tal, vendo TV e ela (do nada, cara!) me perguntou (daquele jeito dela, não muito romântico, mas também não muito seco) se eu aceitaria casar com ela no papel. Jurei que era piada e acabei gargalhando alto. Lana ficou bolada comigo e disse que não quer mais casar e que sou um idiota insensível. Eu insensível, vê se pode?
Mal sabe ela que tenho um par de alianças guardado desde que a vi pela primeira vez, lá no Rio de Janeiro. Sempre soube que seria ela, embora muitas vezes a vida me colocasse alguma dúvida. E bem, foram várias dúvidas. Não dá para negar, né! Deus, me sinto um idiota escrevendo num diário, mas devo admitir que é muito reconfortante contar essas coisas. Espero que Lexi nunca encontre esse diário e nem minha tia. A zoação vai ser geral!
Ah, falando na Lexi... Minha prima se tornou uma mãe e tanto. É muito notável como a chegada de Mabel mudou a vida dela. Não só dela, do Bruno também. Aliás, de todos nós. Os pais de minha afilhada oficializaram de vez a relação e planejam para daqui 2 anos o casamento na igreja, como manda o figurino. Como ele convenceu Alexia a casar? Não sei, mas ele conseguiu, e ainda por cima a garota morre de amores pelo pai da filha. São mais melosos do que eu e Hassenback! (que ela não leia isso). A mãe do Bruno cortou relações quando soube desse casamento. Ele e Lexi agradecem todo santo dia por isso.
Bruno e Lana tiveram a famosa conversa esclarecedora que curou todas as feridas e agora são bons amigos. A gente vê essas coisas acontecendo em novela e pensa “fantasia total, nunca que isso acontece na vida real”, mas quando as pessoas estão dispostas a conversarem de verdade, acontece sim. A vida, de alguma forma, recomeçou para todos nós, e...
- ANDER, SAI DESSE QUARTO MENINO, VEM ALMOÇAR! LANA JÁ CHEGOU! - Fechei o diário, guardei na mochila e corri para a sala do apartamento que antes era de Lana, mas agora é da minha tia. Antes minha família era apenas Lexi e minha tia, agora éramos em 7. – Tá bom, gata gorda, já vou colocar sua comida! – E Eleanor saiu em direção a cozinha com Dinorá miando atrás dela. Sim, Dinorá também fazia visitas a minha tia. Ela já não é mais minha ou de Lana, ela é da família.
- E aí, Hassenback! – Cumprimentei, acenando para ela.
- E aí, Ander!
Observei minha família com um meio sorriso. Lana fazia gracinhas para Mabel, sentada no colo do pai, enquanto Lexi aproveitava para prender a cabeleira dela em duas “xuxinhas”. O olhar da bebezinha encontrou o meu e ela sorriu. Parece que foi ontem que nasceu, mas essa bolotinha já tem 1 ano!
- Sabe... – Murmurei, quando Lana se aproximou e me deu um selinho. – Nunca te agradeci por ter me stalkeado no Facebook. Sem você, acho que não estaríamos aqui.
- Ah, imagina! Foi um prazer acompanhar obsessivamente a vida do meu primeiro amor. – Nos dois sorriram, em cumplicidade.
- Isso que vivemos agora seria tipo um final feliz?
- Final não! – Ela me corrigiu, entrelaçando nossos dedos - Um feliz recomeço.
- Mandou bem, corinthiana!
- Às ordens, mulambo!
Vocês devem estar se perguntando: E aí, Ander? Casou? Sim, me casei com a mulher da minha vida 1 ano depois. Foi um casamento surpresa e bem simples, só para os íntimos. Ver Lana Hassenback depois de sair do trabalho entrando de calça jeans, camiseta branca e All Star na igreja foi impagável!
Espero que meu pai, de onde estiver, esteja feliz pelo caminho que minha vida tomou. E que aquele Ander de 16 anos, que se achava muito esperto, mas na real era totalmente inseguro também esteja.
De um modo muito maluco, deu tudo certo.