Capítulo 39 – FORA!

 

Ander ouviu a campainha tocar e pediu para Lucas se esconder atrás da cortina. Ele abriu a porta e deparou-se com uma radiante Gabriela.

- Oi, amor! – E abraçou Ander, o enchendo de beijos como se fossem um casal apaixonado. – Que saudades.

- Oi, Gabriela. – Respondeu, sem ânimo algum na voz. – Nós precisamos conversar.

- Espero que a conversa seja boa. Não posso passar nervoso por causa do bebê.

Ela sentou no sofá, despreocupada e vitoriosa. Na hora que Ander ia respondê-la, Lucas surgiu de trás da cortina. Normalmente, era dono de uma postura serena e passiva, mas ali era outro homem que encarava a ex-namorada.

- Não pode passar nervoso por causa do bebê, Gabriela? Que bebê?

Toda a máscara que Gabriela construíra se destruiu em pedacinhos ao ver seu ex-namorado na sua frente.

- Lucas? O que faz aqui?

- Então quer dizer que nosso namoro simplesmente acabou por orgulho? Não por você ser uma mentirosa egoísta e dissimulada? Ou por você ser extremamente abusiva? Como foi que me contou, Ander? Eu que era o monstro da relação, né?

Ander não se divertia tanto desde que vivia provocando Lana chamando-a de Laura. Ele ajeitou o celular no bolso, gravando tudo. Sem pressa de acabar.

- Eu quero ir embora. – Ela tentou se levantar, mas Lucas a empurrou contra o sofá. – SAI DE PERTO DE MIM!

- Você se esterilizou aos 21 anos de idade, Gabriela! Como é que você tem coragem de mentir assim? Sua vida é baseada em manipular e fazer da vida alheia um verdadeiro inferno!

- CALA A BOCA! – Ela olhou para Ander que assistia a calorosa discussão dos dois. – É MENTIRA DELE, POSSO SER MÃE SIM! VOCÊ VIU O TESTE DE GRAVIDEZ!

- Eu também vi o teste de gravidez, Gabriela. Aquilo ali qualquer um consegue na internet, para de ser ridícula! Pode deixar, Ander! Ela vai te deixar em paz, pois vou levá-la para a casa da mãe dela que é a única que consegue dar um jeito nessas loucuras que ela põe na cabeça. – Ele a puxou pelo braço, a tirando agressivamente do apartamento de Ander, que se debatia e gritava. Ele tinha se livrado de Gabriela. E dessa vez, para sempre.

- Cara... Quando eu contar isso para a Lexi ela vai pirar! E a Hassenback então? Bem, não posso ser tão otimista com aquela ali, mas ao menos vamos parar de brigar... Espero.
 
(...)
 
A volta para casa foi repleta de harmonia e felicidade, ao menos entre Lexi, Bruno e Mabel. Quando Bruno recebeu a ligação de sua mãe, eles discutiram por horas no telefone, o que deixou transtornado. Alexia o abraçou por trás e deixou um beijo no pescoço dele, carinhosa e protetora.

- Desculpa. – Ele pediu. – Acabamos de chegar e já essa gritaria.

- Relaxa. Mabs tá dormindo. – A campainha tocou, chamando a atenção deles. – Vou atender a porta, deve ser a Lana.

- Certo, vou tomar um banho.

Alexia foi em direção a porta e a abriu, deparando com uma alegre Lana Hassenback. Os olhos verdes eram ansiosos e animados.

- Cadê a bochechuda?

- Dormindo. – E segurou a mão de Lana. – Vem.

As duas entraram no paraíso colorido e lúdico que era o quarto de Mabel. Lana gostou de como ali tudo ornava e era alegre. Encontrou Mabel dormindo de lado, o cabelo escondendo sua orelha.

- Amiga, ela nasceu mesmo.

- Nasceu. Quando dei de mamar para ela no hospital, pensei “ela nasceu mesmo e está aqui sugando meu seio.” Antes era só uma ideia, agora ela existe mesmo. O que aconteceu no hospital?

- Não deu para aguentar aquela cena toda, não depois de saber da gravidez daquela nojenta da Gabriela. Senti uma tristeza tão grande, não era uma boa companhia para vocês.

- Ainda não consigo acreditar nisso, sabe?

- É, mas é a realidade. E o Bruno?

- No banho. A velha insuportável ligou e o deixou irritado.

- Boa sorte com ela, vai precisar.

- Ahhh, Lana. Mas ela que tente alguma gracinha! – Lana segurou a mãozinha de Mabel. – Linda, né?

- Demais. Estava lembrando de quando nos conhecemos e você repudiava a ideia de ser mãe.

- Aquela Alexia olharia a atual com horror.

- Realmente. Nós mudamos muito. – Ela olhou para a amiga. – Recebi a resposta.

Distraída, Lexi olhou para Lana, sem entender.

- Que resposta?

- Do curso.

- E aí?

- Fui aprovada. – As duas se abraçaram. – Viajo em 2 dias. Não quero que fale para o seu primo.

- Lana...

- Amiga, por favor. Você já deixou de me falar coisas para ajudar seu primo. Se ele souber que vou para fora do país vai me convencer a ficar. Não posso, Lexi. Eu tentei lidar com isso de todas as formas possíveis e inimagináveis, mas não dá, não consigo. Sei que isso soa egoísta, mas...

- Tudo bem, tudo bem... Se acalme. – Lexi segurou a mão dela. Bruno encostou na porta, em silêncio. – Vou ficar quieta, prometo. Tem certeza que quer isso?

- Quero me dar uma chance de recomeçar.

- Eu te apoio.

- É isso que espero de você. Não é muito tempo, logo estarei de volta e cheia de mimos para minha afilhada.

- Isso aí! Pretendo batizá-la com 1 aninho.

- Eu passo aqui para dar um beijo em vocês antes de viajar. – Ela deixou um beijo na mãozinha de Mabel e as duas saíram do quarto. Bruno sentou-se no sofá, fingindo mexer no celular. – E aí, Bruno!

- Oi, Lana!

- Amiga, quer tomar um café, suco, sei lá, cerveja?

- Não, estou bem. Só vim aqui ver vocês mesmo. Preciso ir. Tchau, Bruno! Tchau, amiga. Obrigada por tudo.

- Eu que tenho que agradecer. Se não fosse você, não estaríamos aqui hoje.

- Cala a boca! Não dá para imaginar um mundo sem você.

Alexia levou Lana até a porta e se despediram com um abraço apertado. Ela acompanhou a amiga com os olhos até o elevador. No instante que ela entrou e a porta fechou, Ander saiu do elevador ao lado.

- Opa! Estava me esperando?

- Nossa, 10 segundos mais cedo você encontrava a Lana.

- Sério?

- Aham! Que doidera! Entra, Bruno está aqui na sala e a Mabel dormindo.

- Doidera é a que você vai ouvir daqui a pouco. Espero que tenha uma cerveja bem gelada nos esperando na cozinha. – Ele olhou para a barriga de Alexia. – Bem, você acabou de ter um bebê. Tome uma água... Ou sei lá, um café.

- Cretino!

Os primos correram até a cozinha, mas no caminho, Alexia sentiu o olhar de Bruno a julgando e entendeu o que se tratava.

- Bruno, se não quiser perder isso é melhor correr, irmão!
 
Na cozinha, Ander deixou seu celular na mesa e soltou o play da gravação. Os dois ouviram a discussão de Gabriela e Lucas, embasbacados.

- Caramba! – Exclamou Bruno, dando um gole em sua cerveja. - Mentira que o médico é ex da sua namorada.

- Verdade!

- Nossa, e aquele papo todo dela quando se conheceram? – Lembrou Lexi, com a mão na boca, ainda em choque.

- Caô! O negócio de ter se esterilizado tão nova foi pesado demais.

- E como você soube disso tudo?

- Foi uma puta coincidência. Na hora que fui saber de você no hospital  encontrei o Lucas repentinamente. Nos cumprimentamos e foi meio estranho, afinal, ele saiu com a Lana, mas sabe como são os médicos, né? Acima de tudo, profissionais. Perguntou como eu estava e nessa hora a Gabriela me ligou e ele brincou, dizendo que teve uma namorada muito louca com esse nome. Eu precisei mostrar a foto dela.

- E não foi taaaanta coincidência assim, afinal. – Comentou Lexi, pensativa. Bruno a chutou por debaixo da mesa. Ela fez um discreto não com a cabeça. – Loucura.

- Demais, mas agora estou feliz e livre. Preciso conversar com a Lana.

- É... O tempo corre muito rápido quando nós precisamos resolver as coisas. – Bruno comentou, sugestivo. Alexia o fuzilou com o olhar. – Muuuito rápido.

- Você está bêbado? – Ander perguntou, franzindo o cenho.

- Não, mas olha o relógio. Tic e tac! O tempo corre... – Ele terminou sua long neck e se levantou. – Tempo, tempo, tempo, tempo...

E se levantou, deixando uma mensagem que só Alexia compreendeu.

- O que ele tem? – Ander perguntou, preocupado. – É a paternidade?

- Sim. – Alexia tentou amenizar a indireta praticamente cuspida na cara de Ander. – Não liga, depois falo com ele.

- Você está estranha. O que foi?

- Nada. Só um pouco cansada, cheguei em casa e nem dormi direito.

- Ah, é verdade. – Ander se levantou. – Foi mal.

- Não seja bobo! Minha mãe vem pra cá amanhã, se der, apareça também! Vamos almoçar juntos como antes. Bom, agora com a Mabel, mas ainda assim, como antes.

- Sim, vou aparecer. Depois disso, pensei em algo muito romântico para a chata da sua amiga.

- Ela vai amar... Tenho certeza.

Lexi não gostava de mentir para o primo, mas também precisava respeitar a decisão de Lana, ao menos dessa vez. Ela se despediu de Ander segurando a vontade de chorar. O abraço durou mais que o normal. Quando criança, costumavam dizer que um abraço normal durava 3 “Feira de São Cristovão”, dessa vez, durou 6. Completamente animado com a reconciliação, ele não notou como Alexia ficara mais quieta e sem motivo aparente.

- Não fala nada. – Alexia disse, quando Bruno sentou-se ao lado dela. – Sei que estou errada, mas ela me pediu.
 
- É, eu ouvi.

- Ouvindo conversa de trás da porta, senhor Bruno?

- Toda vez que Lana Hassenback está aqui acontece alguma coisa, já percebeu? Preciso prevenir a mãe da minha filha.

- Já percebi sim. – Bruno deitou a cabeça no ombro dela. – Ele é meu primo, é como se fosse meu irmão. Não me sinto bem omitindo algo dele.

- Então não omita, Lexi. Eles se amam, não?

- Sim, eles se amam, mas a Lana me pediu.

- Lexi, ele precisa saber que ela vai partir.

- Eu sei. – No fundo, o choro manhoso de Mabel chamou a atenção de Alexia. – Vou tomar banho rapidinho. Fica com a bebê?

- Tá bom. – Ele deu um beijo no rosto de Lexi e levantou, rumo ao quarto da bebê. – Cadê a bochechudinha do pai?

Lexi parou no meio do caminho, voltou e deu uma espiadinha no quarto. Bruno dançava lentamente com a bebê no quarto. Nunca pensou que poderia ser feliz dessa forma.
 
“Se isso for um sonho, espero não acordar tão cedo.” – Pensou, antes de seguir até o banheiro. Para Lexi, aquilo era o mais perto que tinha da perfeição.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 07/03/2021
Reeditado em 18/06/2022
Código do texto: T7200834
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.